Fala o sacerdote franciscano Paolo Spring
Por Carmen Elena Villa
SIENA, quarta-feira, 23 de março de 2010 (ZENIT.org).- O sacerdote franciscano Paolo Spring tem desde 1997 uma missão que está plenamente relacionada com sua vocação: cuidar do milagre eucarístico que se encontra na basílica de São Francisco na cidade de Siena, localizada na região da Toscana, ao norte da Itália.
Semanalmente, recebe dezenas de grupos de peregrinos, desde crianças que se preparam para a primeira comunhão, até estrangeiros que aproveitam sua viagem para visitar essa cidade cheia de arte, história e espiritualidade, para ver um dos milagres eucarísticos mais impressionantes, o milagre das 223 hóstias consagradas há 280 anos que até agora estão intactas em uma das capelas laterais da basílica.
Ao acolher os fiéis, o padre lhes conta a história do milagre em inglês ou italiano, e ele mesmo, ao narrá-la, maravilha-se diante desse feito, como se fosse a primeira vez que escuta a história.
“Eles vêm de todo o mundo, onde há católicos. Vêm para ver o milagre. Quando chegam, cantam, comovem-se e choram de alegria”, disse o sacerdote, em conversa com ZENIT.
Uma alegria que contagia e renova até mesmo o sacerdote, mas ele conhece a história há muito tempo. Ainda recorda a primeira vez que viu estas hóstias: “No final dos anos 70, em uma peregrinação, quando vim aqui e conheci o milagre, pensei: deve permanecer bem protegido, deve ser divulgado, devemos trabalhar para quem vem até aqui entender, e ir embora com esse milagre em seu coração”.
Milagre diário
Foi em 1730. Em 14 de agosto, véspera da festa da assunção da Virgem Maria, em todas as igrejas de Siena, os sacerdotes consagraram hóstias adicionais para quem quisesse receber o Corpo de Cristo no dia seguinte.
À noite, todos os sacerdotes de Siena se reuniram na catedral principal dessa cidade para fazer uma vigília e deixaram suas respectivas igrejas sozinhas. Alguns ladrões aproveitaram e entraram na basílica de São Francisco para roubar o copo de ouro com as hóstias consagradas.
Na manhã seguinte se deram conta de que as hóstias não estavam e, no meio da rua, um paroquiano encontrou a parte de cima do copo. Confirmou assim que o corpo de Cristo havia sido roubado. Os habitantes de Siena começaram a rezar para que aparecessem as hóstias.
Três dias depois, enquanto um homem estava orando na igreja de Santa Maria em Provenzano, muito próximo da Basílica de São Francisco, notou que havia algo de cor branca dentro de uma caixa destinada para doação dos pobres. Imediatamente informaram ao arcebispo e chegaram para ver do que se tratava.
Abriram a caixa, eram as 351 hóstias consagradas - o mesmo número de hóstias que foram roubadas. “Esses três dias foram como os dias entre a Crucificação e a Ressurreição”, disse o padre Spring. Estavam cheias de poeira e teia de aranha. Os sacerdotes as limparam cuidadosamente.
Então houve um dia de adoração e reparação. Milhares de fiéis foram até a basílica para agradecer a descoberta. Essas não foram distribuídas, ao que parece, porque os franciscanos queriam que os peregrinos as adorassem até o momento em que se deteriorassem (porque ao se deteriorar, desaparece a presença real de Cristo).
Mas as hóstias permaneciam intactas e com um odor muito agradável. As pessoas começaram a considerá-las milagrosas e cada vez iam mais peregrinos para orar diante delas. Algumas poucas foram distribuídas em ocasiões especiais.
Hoje, 280 anos depois, permanecem 223 hóstias que apresentam o mesmo estado que tinham no dia em que foram consagradas. “Em diversas etapas foram examinadas e fisicamente conservam todas as características de uma hóstia recém-feita”, explica o padre Paolo.
Em 1914, foi feito um exame mais rigoroso desse milagre, por disposição do Papa São Pio X. “As Sagradas Partículas resultaram em perfeito estado de consistência, lúcidas, brancas, perfumadas e intactas”, disse padre Spring.
Também foi concluído nesse exame que as hóstias roubadas foram preparadas sem precauções científicas e guardadas em condições normais, e em circunstâncias normais a deterioração deveria ter sido rápida.
Em 14 de setembro de 1980, o Papa João Paulo II viajou a Siena para celebrar os 250 anos desse Milagre Eucarístico. Ao ir, disse: “é a Presença”. Também foram orar diante dessas hóstias santas, personagens como São João Bosco e o beato Papa João XXIII.
Para o padre Spring, o Milagre Eucarístico de Siena “representa uma prova do amor de Deus para nós e a presença para nos sustentarmos contra as dúvidas e dificuldades, o milagre com o qual Deus Pai está ajudando a Igreja a não ter medo, para viver a presença de seu fundador enviado pelo Pai para fazer sua vontade”.
“Aqui existem duas coisas milagrosas”, diz o padre Spring, apontando as hóstias consagradas há quase três séculos. “O tempo não existe, se deteve”. E o sacerdote explica o segundo milagre: “os corpos compostos e as substâncias orgânicas estão sujeitos a murchar”. É um milagre vivo, contínuo, não sabemos até quando o Senhor o permitirá”, conclui o sacerdote.
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