sábado, 22 de janeiro de 2011

Bento XVI: Jesus foi um refugiado

Alocução por ocasião do Ângelus

Apresentamos as palavras que o Papa Bento XVI dirigiu hoje, ao rezar a oração mariana do Ângelus, aos peregrinos reunidos na Praça de São Pedro.

* * *

Queridos irmãos e irmãs:

Neste domingo, comemoramos o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, que a cada ano nos convida a refletir sobre a experiência de muitos homens e mulheres, e muitas famílias que deixam seus países em busca de melhores condições de vida. Esta migração é por vezes voluntária; outras vezes, infelizmente, é forçada pela guerra ou perseguição, e com frequência acontece, como sabemos, em circunstâncias dramáticas. Por esta razão, estabeleceu-se, sessenta anos atrás, o Alto Comissariado para os Refugiados.

Na festa da Sagrada Família, após o Natal, lembramos que os pais de Jesus também tiveram de fugir da própria terra e se refugiar no Egito para salvar a vida de seu filho: o Messias, o Filho de Deus, foi um refugiado. A Igreja, desde sempre, viveu em seu interior a experiência da migração. Às vezes, infelizmente, os cristãos são obrigados a deixar suas terras em meio ao sofrimento, empobrecendo assim os países onde viveram seus antepassados. Por outro lado, os traslados voluntários dos cristãos por diferentes razões, de uma cidade para outra, de um país para outro, de um continente para outro, são uma oportunidade para aumentar o dinamismo missionário da Palavra de Deus e permitem que o testemunho da fé circule mais no Corpo Místico de Cristo, atravessando os povos e as culturas e alcançando novas fronteiras, novos ambientes.

"Uma só família humana": este é o tema da mensagem que enviei por ocasião deste dia. Uma questão que indica o fim, o objetivo da grande jornada da humanidade através dos séculos: formar uma única família, naturalmente com todas as diferenças que a enriquecem, mas sem barreiras, reconhecendo todos como irmãos. O Concílio Vaticano II diz: "Todos os povos formam uma comunidade, têm uma mesma origem, porque Deus fez todo o gênero humano habitar sobre a face da terra" (declaração Nostra aetate, 1).

A Igreja continua o Concílio, "é, em Cristo, como um sacramento, isto é, sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano" (constituição Lumen gentium, 1). Por esta razão, é essencial que os cristãos, embora estejam espalhados por todo o mundo e, portanto, tenham diferentes culturas e tradições, sejam uma só coisa, como o Senhor quer. Este é o objetivo da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que será realizada nos próximos dias, de 18 a 25 de janeiro. Neste ano, ela se inspira em uma passagem dos Atos dos Apóstolos: "Unidos na doutrina dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e na oração" (At 2,42). A oitava pela Unidade dos Cristãos é precedida, amanhã, pelo Dia do diálogo judaico-cristão: a coincidência de datas é muito significativa, pois aponta para a importância das raízes comuns que unem judeus e cristãos.

Ao nos dirigirmos a Nossa Senhora, rezando o Ângelus, confiamos à sua proteção todos os migrantes e aqueles que se dedicam ao trabalho pastoral entre eles. Que Maria, Mãe da Igreja, nos permita também avançar no caminho rumo à plena comunhão de todos os discípulos de Cristo.

[Depois de rezar o Ângelus, o Papa disse:]

Queridos irmãos e irmãs, como todos sabem, no dia 1º de maio terei a alegria de proclamar Bem-aventurado o Venerável João Paulo II, meu amado predecessor. A data escolhida é significativa: será, de fato, o II Domingo de Páscoa, que ele mesmo dedicou à Divina Misericórdia, e na véspera do qual encerrou a sua vida terrena. Aqueles que o conheceram, aqueles que o estimaram e amaram, não podem deixar de se alegrar com a Igreja por este evento. Estamos felizes!

Quero assegurar minha especial recordação na oração pelas populações da Austrália, Brasil, Filipinas e Sri Lanka, recentemente atingidas por enchentes devastadoras. Que o Senhor acolha as almas dos defuntos, dê força aos desabrigados e apoie o trabalho daqueles que estão ajudando a aliviar o sofrimento e o desconforto.

Como foi o processo de beatificação de João Paulo II

Os passos que permitiram o anúncio
A causa de beatificação de João Paulo II começou mais cedo que de costume, mas o seu processo seguiu os passos normais previstos para qualquer causa, confirmou a Santa Sé nessa sexta-feira.

Uma nota informativa da Congregação para as Causas dos Santos explica quais foram os passos que permitirão elevar Karol Wojtyla aos altares no próximo 1º de maio, domingo da Divina Misericórdia.

O anúncio foi feito depois que Bento XVI autorizou a promulgação do decreto sobre o milagre atribuído à intercessão do venerável servo de Deus. Este ato encerra a etapa precedente ao rito de beatificação.

O dicastério vaticano esclarece que "a causa, por dispensa pontifícia, começou antes de passarem cinco anos da morte do servo de Deus, como é exigido pela normativa vigente".

"Esta medida foi solicitada pela imponente fama de santidade que João Paulo II teve em vida, na morte e depois da morte. No mais, todas as disposições canônicas comuns das causas de beatificação e canonização foram observadas integralmente".

"De junho de 2005 a abril de 2007, foi realizada a investigação diocesana principal romana e as rogatoriais em várias dioceses, sobre a vida, as virtudes, a fama de santidade e os milagres".

"A validade jurídica dos processos canônicos foi reconhecida pela Congregação para as Causas dos Santos com o Decreto de 4 de maio de 2007".

"Em junho de 2009, examinada a Positio, nove consultores teólogos da Congregação deram parecer positivo ao heroísmo das virtudes do servo de Deus. Em novembro, seguindo o procedimento habitual, a mesma Positio foi submetida ao juízo dos cardeais e bispos da Congregação para as Causas dos Santos, cuja sentença foi afirmativa".

"Em 19 de dezembro de 2009, o Sumo Pontífice Bento XVI autorizou a promulgação do decreto sobre a heroicidade das virtudes".

"Em vista da beatificação do venerável servo de Deus, a postulação da causa apresentou para exame da Congregação para as Causas dos Santos a cura do "mal de Parkinson" da irmã Marie Simon Pierre, religiosa das Irmãzinhas das Maternidades Católicas (Cf. ZENIT, O milagre que permitirá a beatificação de João Paulo II).

"Como de praxe, as numerosas atas da investigação canônica, regularmente instruída, junto com os detalhados exames médico-legais, foram submetidos ao exame científico da Consulta Médica da Congregação para as Causas dos Santos, em 21 de outubro de 2010. Os peritos, depois de estudarem com a habitual minúcia os testemunhos processuais e toda a documentação, concluíram que a cura era cientificamente inexplicável".

"Os consultores teólogos, depois de revisadas as conclusões médicas, iniciaram em 14 de dezembro de 2010 a ponderação teológica do caso. Reconheceram por unanimidade a unicidade, a antecedência e a invocação coral dirigida ao Servo de Deus João Paulo II, cuja intercessão tinha sido eficaz para a cura milagrosa".

"Por último, em 11 de janeiro de 2011, ocorreu a sessão ordinária de cardeais e bispos da Congregação para as Causas dos Santos, que emitiu um parecer unânime e afirmativo, considerando milagrosa a cura da irmã Marie Simon Pierre, como realizada por Deus de modo cientificamente inexplicável, depois de rogada a intercessão do Papa João Paulo II, invocado com confiança tanto pela pessoa curada como por muitos outros fiéis".

Papa a todos os cristãos: mundo precisa do nosso testemunho forte

Dedica a audiência geral à Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos
Os cristãos têm hoje uma responsabilidade comum no mundo, indicou Bento XVI: oferecer um testemunho forte para levar uma mensagem que ilumina o caminho do homem atual.

O Papa dedicou sua catequese de hoje à Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, na audiência geral realizada na Sala Paulo VI, com peregrinos do mundo inteiro.

"Como discípulos do Senhor, temos uma responsabilidade comum para com o mundo, devemos fazer um serviço comum", exortou.

Falando do tema da Semana de Oração, de 18 a 25 de janeiro, o Pontífice destacou o modelo dos primeiros cristãos, segundo narra o livro dos Atos dos Apóstolos.

"Como a primeira comunidade cristã de Jerusalém, partindo do que já compartilhamos, devemos oferecer um testemunho forte, espiritualmente baseado e apoiado pela razão, do único Deus que se revelou e que nos fala em Cristo, para ser portadores de uma mensagem que oriente e ilumine o caminho do homem da nossa época, frequentemente privado de pontos de referência claros e válidos", afirmou.

Para isso, indicou a importância de "crescer diariamente no amor mútuo, empenhando-nos em superar essas barreiras que ainda existem entre os cristãos; sentir que há uma verdadeira unidade interior entre todos aqueles que seguem o Senhor; colaborar, tanto quanto possível, trabalhando em conjunto sobre questões ainda abertas; e, acima de tudo, estar cientes de que, neste itinerário, o Senhor deve nos ajudar".

E convidou a perseverar na oração, "implorando de Deus o dom da unidade, para que se cumpra no mundo inteiro seu desígnio de salvação e de reconciliação".

Os primeiros cristãos

O Papa explicou as quatro características que definem a primeira comunidade cristã de Jerusalém como "um lugar de unidade e de amor" e extraiu lições para a atualidade.

Esta comunidade se caracterizava pela "escuta do ensinamento dos apóstolos" e pela "comunhão fraterna"; e nela "também era essencial o momento da fração do pão" e "a oração" como uma atitude constante que acompanha a vida cotidiana, disse.

Sobre a escuta do testemunho que os apóstolos dão da missão, morte e ressurreição de Cristo, o Papa destacou que, "ainda hoje, a comunidade dos crentes reconhece, na referência ao ensinamento dos Apóstolos, a própria norma de fé".

"Todos os esforços feitos para construir a unidade entre os cristãos passam pelo aprofundamento da fidelidade ao depositum fidei que recebemos dos Apóstolos - explicou. A firmeza na fé é a base da nossa comunhão, é o fundamento da unidade dos cristãos."

Em segundo lugar, qualificou a comunhão fraterna como "a expressão mais tangível, especialmente para o mundo exterior, da unidade entre os discípulos do Senhor" e recordou que os primeiros cristãos "tinham tudo em comum".

Neste sentido, sublinhou que "a história do movimento ecumênico é marcada por dificuldades e incertezas, mas é também uma história de fraternidade, de colaboração e de comunhão humana e espiritual".

Quanto à fração do pão, indicou que "a comunhão no sacrifício de Cristo é o ponto culminante de nossa união com Deus e, portanto, também representa a plenitude da unidade dos discípulos de Cristo".

Neste sentido, destacou que, "durante esta semana de oração pela unidade, está particularmente vivo o lamento pela impossibilidade de partilhar a mesma mesa eucarística, um sinal de que ainda estamos longe de alcançar a unidade pela qual Cristo orou".

Finalmente, afirmou que "a oração é, desde sempre, uma atitude constante dos discípulos de Cristo, que acompanha sua vida diária em obediência à vontade de Deus".

Único corpo

Bento XVI recordou que "a Igreja abraça desde o começo as pessoas de diversas origens e, no entanto, justamente a partir dessas diferenças, o Espírito cria um único corpo".

Afirmou que "Pentecostes, como o início da Igreja, marca a expansão da Aliança de Deus a todas as criaturas, a todos os povos e a todas as épocas, para que toda a criação caminhe rumo ao seu verdadeiro objetivo: ser lugar de unidade e de amor".

E concluiu com um convite: "Abramo-nos à fraternidade que deriva de ser filhos de um Pai celeste e, portanto, a estar dispostos ao perdão e à reconciliação".

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A força que vem de Deus

“Não vos sobreveio tentação alguma que ultrapassasse as forças humanas. Deus é fiel: não permitirá que sejais tentados além das vossas forças, mas com a tentação ele vos dará os meios de suportá-las e sairdes delas” (1 Cor 10, 13).

Nesse momento em que tantas pessoas estão enfrentando o luto, a dor e a privação de tudo em virtude dos desastres naturais, lembrei-me de duas profecias que recebemos do Senhor. Como a profecia também é comunicação de Deus para nós, ela carrega em si uma força que cria novas realidades nas nossas vidas. Espero que essas profecias venham como a força da ressurreição, com força devida nova sobre todos os que sofrem.

“Quando te resgatei o teu resgate foi completo e a minha graça sobre ti também foi completa, plena, para te dar forças e te revestir do meu Espírito, para poderes cumprir plenamente com o teu SIM, como quando revesti Maria com o meu Espírito. Quero que creias no meu amor profundo por ti, na minha eleição e escolha.”

“Quero que sejas profeta da esperança e da bênção. Não te desespera, não deixa o desânimo tomar conta de ti, tira os olhos das dificuldades e coloca-os em mim. Farei com a tua casa como fiz na casa da viúva de Sarepta (cf. 1Reis 17, 7-16). Retirarás todos os dias da minha provisão e da minha multiplicação o necessário para o pão de cada dia. Nunca faltará provisão para o alimento, para o amor, a paciência, a alegria, o perdão, a coragem , seja o que for que estiveres precisando. Retira da fonte de subsistência que sou Eu. É só pedires e nada te faltará.Pede,porém, e profetisa no começo como será o fim. Profetisa tendo como perspectiva o meu amor poderoso que tudo vence, tudo resgata, tudo restaura.”

Nessas profecias, o Senhor está nos pedindo para confiarmos no seu amor nunca nos abandona, para confiarmos na sua providência e darmos testemunho de nossa fé nele, sendo profetas da esperança dentro das nossas casas e para todos os que estão ao nosso redor. Acreditemos também na Palavra de Deus que nos diz que teremos força para enfrentar tudo o que for necessário. Lembremos que a consolação do Espírito Santo é a força plena e completa do amor de Deus operando em nossas vidas.

Colabore com os atingidos pela enxurrada
Atendendo ao apelo dos coordenadores estaduais da RCC da região, pensamos em uma campanha: vamos arrecadar mantimentos, produtos de limpeza, água, cobertores e roupas com nossos familiares, companheiros de Grupo de Oração, colegas de trabalho, amigos e levá-los ao Encontro Nacional de Formação, que ocorre de 26 a 30 de janeiro, em Lorena/SP.

Coloquemos em prática nossa caridade fraterna e ajudemos aqueles que mais precisam de nós neste momento.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Batizados com Cristo e em Cristo para uma vida nova

A seção de formação desta semana foi redigida por Dom Emanuele Bargellini, Prior do Mosteiro da Transfiguração, de Mogi das Cruzes/SP, doutor em liturgia pelo Pontificio Ateneo Santo Anselmo (Roma), baseada nas leituras da festa do Batismo do Senhor (Is 42, 1- 4.6-7; At 10, 34-38; Mt 3, 13-17).

Com o domingo do Batismo de Jesus, terminará o tempo litúrgico da “manifestação do Senhor”. Iniciado com o primeiro domingo do Advento, este tempo teve seu centro na celebração do Natal e da Epifania, e hoje enfoca o Batismo de Jesus por mãos de João Batista. Este caminho iluminado pela liturgia, nos fez acompanhar o Senhor na sua descida progressiva através da fraqueza humana, feita própria com a sua Encarnação. Desde os primeiros passos no Advento, o coração contemplativo da Igreja teve seu olhar orientado para a páscoa do Senhor, cume da manifestação paradoxal da glória de Cristo no trono da cruz e na luz da Ressurreição. É a Páscoa que ilumina o sentido profundo do mistério da Encarnação e o conduz a seu cumprimento.

O evangelista Mateus nos apresenta a procura de Jesus por João e seu pedido de ser batizado junto com as demais pessoas que se reconhecem pecadoras e querem converter-se a Deus. Essa cena nos é apresentada como uma escolha bem consciente de Jesus. Ele defende esta alternativa mesmo frente às resistências do próprio João, motivando-a como uma obediente submissão de ambos ao projeto do Pai (Mt 3, 13-15). A Palavra de Deus, que por amor assumiu a fragilidade e as contradições da condição humana, quis descer até o fundo dessa situação assumindo sobre si até o pecado, para reconciliar todos e tudo com Deus (cf. Cl 1,20), dando início em si mesmo ao retorno do mundo à ordem e à paz original na submissão perfeita a Deus. “Aquele que não conhecera o pecado, Deus o fez pecado por causa de nós, a fim de que, por ele, nos tornemos justiça de Deus” (2Cr 5,21). “Nas águas é lavado / o celestial cordeiro; / O que não tem pecado / nos lava em si primeiro” (Hino das Vésperas – tempo do Natal a partir da Epifania).

O mergulhar de Jesus nas águas do rio Jordão desenvolve o processo da sua descida na carne (Natal) e antecipa a sua conclusão no “batismo” da sua Paixão e Morte (Páscoa) (cf. Mc 10, 39), com a descida aos infernos, onde o crucificado, que deu sua própria vida por amor, chama novamente Adão e Eva, as raízes simbólicas da existência humana, à vida nova dos resgatados como filhos e filhas de Deus. “Depois de ser batizado, Jesus saiu logo da água”. Com ele é o mundo inteiro que sai das obscuridades do pecado e inicia um novo caminho.

“No seu batismo Jesus é o lugar de contato entre a miséria humana e a misericórdia divina. Em seu coração se desfaz a massa triste do mal realizado pela humanidade e se renova a vida” (Bento XVI, Catequese de 7 de Janeiro, 2009).

Em Jesus, solidário como o Servo Sofredor do Senhor com os homens e as mulheres de todos os tempos em busca de salvação (1ª leitura de Is 42, 1-7), o Pai revela que na realidade “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus o meu agrado” (Mt 3,17). O profeta promete que no futuro, o espírito do Senhor será derramado sobre o Servo do Senhor para atuar sua missão libertadora em favor de Israel e das nações pagãs. Ele tomará cuidado com mansidão, perseverança e fortaleza de todas as situações de fragilidade, pois Deus faz justiça antes de tudo para os pobres (cf. 1ª leitura). Agora esse Espírito desce sobre Jesus na forma simbólica da pomba da paz, que somente o coração filial de Jesus vê descer do Pai e pousar sobre ele (Mt 3, 16). Em Jesus, o filho bem amado, se cumpre plenamente a profecia de Isaías, como o próprio Jesus afirmará no início da sua missão na sinagoga de Nazaré: “Hoje se cumpriu aos vossos ouvidos essa passagem da escritura” (Lc 4, 21).

As expectativas de todos os necessitados, prisioneiros de qualquer falha e constrangimento, podem voltar a esperar e enxergar a luz de um novo futuro, pois para todos chegou “o ano da graça do Senhor”, que não tem tempo limitado, mas é oferecido para os homens e as mulheres de todo tempo (cf. Lc 4,18-19).

Eis acontecer no batismo de Jesus a surpreendente revelação do amor sacrificado e criador do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Neste evento a fé da Igreja contempla mais uma vez a santa Trindade enquanto fica atuando o misterioso plano divino de salvação, dentro da história humana, através do Verbo de Deus feito carne. Essa mesma fé nos convida a ficarmos mergulhados nesta mesma comunhão com a santa Trindade, na qual estamos inseridos por força do nosso batismo. Afinal, não fomos nós batizados “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”?

A Igreja do Oriente interpreta muito bem este dinamismo da salvação através da humilhação-glorificação de Jesus no batismo e paixão, por meio da composição dos ícones do batismo de Jesus e da sua ressurreição, composição que exprime na linguagem simbólica da arte o profundo sentido teológico dos mistérios. Nos dois ícones a água do Jordão e a gruta dos infernos apresentam a mesma obscuridade, que Jesus, ao descer nela, penetra e vence com a energia luminosa e transformadora do Espírito Santo, pelo qual é permeado no batismo e ressuscitado da morte.

Os evangelhos dizem que após o batismo, Jesus, “pleno do Espírito Santo, voltou do Jordão; era conduzido pelo Espírito através do deserto durante quarenta dias e tentado pelo diabo” (Lc 4, 1-2). Jesus vive novamente o caminho de Israel no deserto, enfrenta as mesmas tentações, mas ele sai vencedor do diabo enganador, renovando a obediência ao Pai na força que vem da sua palavra e do Espírito.

Logo depois inicia a sua missão anunciando o reino de Deus e a exigência de entrar no seu caminho, manifestando-o já presente na potência da sua palavra e das suas obras de cura e de libertação, atuando num estilo de compaixão e misericórdia. A Igreja, corpo vivo de Cristo, vive desta experiência cotidiana da potência humilde e transformadora do Espírito e da misericórdia do Pai manifestada na mansidão acolhedora de Jesus. Aqui a Igreja reconhece a fonte da sua vida, a sua razão de existir, e o lugar de onde tem de modelar o estilo do seu ministério para anunciar a boa nova aos homens e às mulheres do nosso tempo.

Ela vive no “hoje” de Deus para que todas as pessoas possam gozar da vida plena de Deus a partir das próprias condições, curadas e sanadas pela sua misericórdia. O batismo de Jesus é fonte de graça para todos, mas também critério para examinar a si mesmos sobre a autenticidade do próprio caminho e do próprio serviço ao evangelho.

A liturgia das Horas do tempo da Epifania procura unir e contemplar juntos o evento da Epifania, o batismo de Jesus e a transformação da água em vinho nas núpcias de Caná (Jo 2, 1 -12), como partes de um único processo de revelação da glória de Cristo na humildade da carne. Os textos evangélicos que narram os episódios correspondentes são proclamados nos três domingos sucessivos. Nesta maneira a liturgia destaca também a unidade existencial entre os mistérios celebrados e a nossa experiência cotidiana no caminho da fé.

A antífona do Cântico do Benedictus, nas Laudes do dia da Epifania, canta: “Hoje a Igreja se uniu a seu celeste esposo, porque Cristo lavou no Jordão o pecado [batismo de Jesus]; para as núpcias reais correm magos com presentes [epifania – magos]; e os convivas se alegram com a água feita vinho [núpcias de Caná]. Aleluia”.

Esta magnífica antífona apresenta, numa visão sintética e mística, o mistério da Encarnação e da revelação do Verbo de Deus na expansão das suas potencialidades. É o cumprimento das promessas a Israel (núpcias de Caná – Jo 2, 1-11) e a manifestação universal a todos os povos, culturas e religiões (epifania/magos – Mt 2, 1-12), através da solidariedade de Jesus com o pecado do mundo inteiro (batismo – Mt 3, 13-17) .

Epifania, Batismo e transformação da água em vinho em Caná constituem três painéis de um único trítico, de um único mistério que tem dimensões cósmicas: a celebração das núpcias de Deus com Israel e com toda a humanidade na Encarnação do Verbo e na sua manifestação humilde e potente.

No batismo da cruz, afirma São Paulo, Jesus “prepara e enfeita” a noiva para o casamento que ele está para realizar com a Igreja, e através da Igreja, com toda a humanidade. Ele a purifica de toda mancha, pelo banho do batismo que os cristãos vão receber no seu nome (cf. Ef 5, 25-27).

A purificação ascética e interior e a vida moral que os cristãos são chamados a conduzir, em força do próprio batismo em Cristo, têm a beleza e o sabor da preparação das vestes nupciais da esposa. É um processo interior que exige cuidado de si mesmo, sensibilidade, tempo, acompanhamento por parte de quem tem experiência e conhece a arte de guiar a si mesmo e o caminho dos outros. A arte da vida no Espírito. Crescer na vida espiritual até chegar a seguir, com a apropriada veste nupcial, o Cordeiro que vai festejar suas bodas com a Igreja, exige mais que o batismo pontual: pretende que se aprenda a viver sempre mergulhados nas águas batismais do amor (cf. Ap 7, 9–17). Esta visão da vida cristã proporcionada pela escritura e pela Igreja na liturgia natalina nos dá uma diferença de perspectiva e de pedagogia espiritual. Aqui nasce uma autêntica consciência moral capaz de orientar os cristãos nas escolhas de cada dia, a partir da experiência da transformação interior sustentada pelo Espírito de Jesus, e da relação esponsal com o Senhor, própria dos filhos e filhas de Deus renascidos com Cristo e em Cristo!

O texto da antífona das Laudes da Epifania nos envia ao mesmo tempo às profecias do Antigo Testamento e ao seu cumprimento definitivo no éscaton do Apocalipse.

Os profetas descreveram a relação do Senhor para com Israel em termos de relação nupcial estipulada por iniciativa gratuita do mesmo Senhor. Ele chega a renovar a sua esposa – depois das repetidas traições que esta cometeu – reconstituindo até sua virgindade e oferecendo-lhe como dote atitudes interiores autênticas (cf. Os 2, 16; 21-22).

São João chama de “primeiro sinal” o gesto da transformação da água em vinho, cumprido por Jesus nas núpcias de parentes ou amigos em Caná, e acrescenta que “neste gesto Jesus manifestou a sua glória e os seus discípulos creram nele” (Jo 2,11).

Jesus é o “esposo” que cumpre finalmente aquela “aliança nova e eterna”, aquele “casamento inabalável” entre Deus e o novo Israel/humanidade preanunciado pelos profetas e inscrito no coração pelo Espírito de Deus (Jr 31, 31-34; Ez 36,26-27). A transformação da água em vinho, e vinho de ótima qualidade, diz simbolicamente a passagem definitiva da antiga à nova e perfeita aliança!

O batismo de Jesus – enquanto expressão da sua submissão ao Pai no amor e da sua solidariedade com o pecado dos homens – assim como o nosso encontro na fé e no batismo com Cristo, são eventos dinâmicos, um processo aberto. Jesus foi impelido pelo seu batismo até a cruz. O nosso batismo está sendo atuado com o progresso da nossa transformação nele e do nosso empenho a transformar a realidade em que vivemos.

Nos momentos mais significativos da vida da comunidade, como a grande Vigília pascal, ou periodicamente nos domingos, renovamos as promessas do nosso batismo, como confirmação e desenvolvimento da nossa participação no dinamismo renovador do batismo e da páscoa de Cristo, no “hoje” sempre novo de Deus.

Que o Senhor nos conceda chegar a cantar de verdade, em primeira pessoa, e em comunhão com a Igreja e a humanidade inteira: “Hoje a Igreja se uniu a seu celeste esposo, porque Cristo lavou no Jordão o pecado; para as núpcias reais correm magos com presentes; e os convivas se alegram com a água feita vinho. Aleluia”.

Dom Emanuele Bargellini
Monge Beneditino Camaldolense
Prior do Mosteiro da Transfiguração, Mogi das Cruzes/SP

Fonte: ZENIT

Não somos absolutamente de perder o ânimo

“Pois vos é necessária a perseverança para fazerdes a vontade de Deus e alcançardes os bens prometidos. Ainda um pouco de tempo – sem dúvida, bem pouco – e o que há de vir virá e não tardará. Meu justo viverá da fé. Porém, se ele desfalecer, meu coração já não se agradará dele. Não somos absolutamente de perder o ânimo para nossa ruína; somos de manter a fé para nossa salvação!” (Hb 10, 36-39).

Caminhamos todo o ano de 2010 sob a moção das “portas abertas”, conforme palavra que recebemos em Isaías 45,1 e Apocalipse 3, 7-8, e muitos foram os testemunhos de pessoas que viram portas se abrirem nas suas vidas, criando novas oportunidades de trabalho, de estudo, de restauração nas famílias. Muitos também testemunharam terem recebido resposta às orações que vinham fazendo há anos. Estes precisam agradecer a Deus de todo coração por terem recebido essas graças. Porém quero lembrar que essas passagens são desdobramentos de uma grande promessa feita a nós em 2007, quando recebemos a passagem de Isaías 45, versículos de 15 a 18, onde o Senhor nos diz que Ele habita em nossa casa, que não nos criou para a confusão e desordem, mas que organiza a nossa vida para que vivamos. Junto com essa palavra, o Senhor nos deu também a seguinte palavra de sabedoria: “Quero que voltem a esperar milagres e a enfrentar os problemas de sua vida com fé”. Recebemos ainda essa linda profecia: “Não te preocupa, Eu já comecei a agir. Verás um por um dos teus problemas se resolvendo, dissolvendo-se como fumaça, porque o teu Deus entrou em ação. Quero que o teu coração não trema diante do que parece um problema novo porque Eu cuido desse também. Quando aparecerem os desafios, lembra de recorrer a mim. Coloco dentro de ti recursos de paz, de sabedoria e de iniciativa que dá certo,mas precisas pedi-los a mim, Eu os liberarei. Caminhará sob o brilho da minha glória e ela será como uma película de felicidade sobre a tua vida. Renuncia à tristeza, confia em mim, espera em mim, te refugia em mim”.

Diante de tais promessas, a moção que inicia o ano de 2011 é principalmente para aqueles que ainda não as viram se realizar nas suas vidas. Nós lemos no livro do profeta Isaías que a palavra de Deus não volta sem ter produzido seu efeito, sem ter executado a vontade de Deus e cumprido sua missão. Se o Senhor diz, através de sua Palavra, que portas se abrirão, que a confusão, a desordem e a vergonha desaparecerão da nossa casa, então podemos crer com absoluta certeza que isso vai acontecer. Um dia a bênção de Deus nos alcançará, um dia as nossas preces serão atendidas. E quando virmos os outros dando testemunho de portas que se abriram e de bênçãos que chegaram poderemos ficar felizes por eles e por nós mesmos, pois é Deus sinalizando que um dia também veremos milagres acontecendo nas nossas vidas.

Enquanto isso não acontecer, a palavra de Deus não voltará para Ele, pois ela jamais volta vazia, sem ter realizado com seu propósito. Se você ainda não alcançou as promessas contidas na palavra de Deus, então você ainda está caminhando sob a moção das portas abertas.

Podemos orar assim: “Retira, Senhor, no poder do teu nome, todo medo, toda sensação de impotência e incredulidade e cria em nós, no poder do Espírito Santo, um novo padrão mental, uma nova atitude de fé. Peço ainda que laves no teu sangue a mim e à minha família, retirando todas as deformidades, tudo o que nos foi desviando do plano original de Deus Pai para as nossas vidas e coloca em nós o justo equilíbrio, estabilizando emoções, valores, visão do mundo e de nós mesmos. Isso te pedimos, Senhor, e desde já te agradecemos. Amém”.

Maria Beatriz Spier Vargas
Secretária-geral do Conselho Nacional da RCCBRASIL

Retrospectiva 2010: Proclama a Palavra, anuncia a Boa Notícia

Em 2010, a temática escolhida pelo Conselho Nacional colocou como foco da Renovação Carismática Católica a vivência da Palavra de Deus e o seu anúncio. “Proclama a Palavra, anuncia a Boa Notícia” foi o tema do Congresso Nacional e de diversos outros eventos, nacionais e regionais, que convidaram aos carismáticos a uma maior intimidade com as Sagradas Escrituras.

No último programa da série especial de retrospectiva do ano que passou, o presidente do Conselho Nacional da RCCBRASIL, Marcos Volcan, avalia a utilização do tema e mostra como o nosso Movimento vem investindo em uma área que potencializa o anúncio do Evangelho e cria unidade, a comunicação.


Assista à edição:






Saiba mais:

Retrospectiva 2010: Nossa Casa começa a sair do papel

Série especial do programa Eu amo a RCC

DOUTRINA SOBRE O PURGATORIO


PROF. FELIPE AQUINO.

O PURGATÓRIO NA BIBLIA

Muitos me perguntam onde está na Bíblia o Purgatório? Ele é uma exigência da razão e mesmo da caridade de Deus por nós. A palavra “Purgatório” não existe na Bíblia, foi criada pela Igreja, mas a realidade, o “conceito doutrinário” deste estado de purificação existe amplamente na Sagrada Escritura como vamos ver. A Igreja não tem dúvida desta realidade por isso, desde o primeiro século reza pelo sufrágio das almas do Purgatório.

1 – São Gregório Magno (†604), Papa e doutor da Igreja, explicava o Purgatório a partir de uma palavra de Jesus: “No que concerne a certas faltas leves, deve-se crer que existe antes do juízo um fogo purificador, segundo o que afirma aquele que é a Verdade, dizendo que se alguém tiver pronunciado uma blasfêmia contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado nem no presente século nem no século futuro (Mt 12,31). Desta afirmação podemos deduzir que certas faltas podem ser perdoadas no século presente, ao passo que outras, no século futuro” (Dial. 41,3). O pecado contra o Espírito Santo, ou seja a pessoa que recusa de todas as maneiras os caminhos da salvação, não será perdoado nem neste mundo, nem no mundo futuro. Mostra o Senhor Jesus, então, neste trecho, implicitamente, que há pecados que serão perdoados no mundo futuro, após a morte.

2 – O ensinamento sobre o Purgatório tem raízes já na crença dos próprios judeus do Antigo Testamento; cerca de 200 anos antes de Cristo, quando ocorreu o episódio de Judas Macabeus. Narra-se aí que alguns soldados judeus foram encontrados mortos num campo de batalha, tendo debaixo de suas roupas alguns objetos consagrados aos ídolos, o que era proibido pela Lei de Moisés. Então Judas Macabeus mandou fazer uma coleta para que fosse oferecido em Jerusalém um sacrifício pelos pecados desses soldados. “Então encontraram debaixo da túnica de cada um dos mortos objetos consagrados aos ídolos de Jâmnia, coisas proibidas pela Lei dos judeus. Ficou assim evidente a todos que haviam tombado por aquele motivos… puseram-me em oração, implorando que o pecado cometido encontrasse completo perdão… Depois [Judas] ajuntou, numa coleta individual, cerca de duas mil dracmas de prata, que enviou a Jerusalém para que se oferecesse um sacrifício propiciatório. Com ação tão bela e nobre ele tinha em consideração a ressurreição, porque, se não cresse na ressurreição dos mortos, teria sido coisa supérflua e vã orar pelos defuntos. Além disso, considerava a magnífica recompensa que está reservada àqueles que adormecem com sentimentos de piedade. Santo e pio pensamento! Por isso, mandou oferecer o sacrifício expiatório, para que os mortos fossem absolvidos do pecado” (2Mc 12,39-45).

O autor sagrado, inspirado pelo Espírito Santo, louva a ação de Judas: “Se ele não esperasse que os mortos que haviam sucumbido iriam ressuscitar, seria supérfluo e tolo rezar pelos mortos. Mas, se considerasse que uma belíssima recompensa está reservada para os que adormeceram piedosamente, então era santo e piedoso o seu modo de pensar. Eis porque ele mandou oferecer esse sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, afim de que fossem absolvidos do seu pecado”. (2 Mac 12,44s) .Neste caso, vemos pessoas que morreram na amizade de Deus, mas com uma incoerência, que não foi a negação da fé, já que estavam combatendo no exército do povo de Deus contra os inimigos da fé. Cometeram uma falta que não foi mortal.

Fica claro no texto de Macabeus que os judeus oravam pelos seus mortos e por eles ofereciam sacrifícios, e que os sacerdotes hebreus já naquele tempo aceitavam e ofereciam sacrifícios em expiação dos pecados dos falecidos e que esta prática estava apoiada sobre a crença na ressurreição dos mortos. E como o livro dos Macabeus pertence ao cânon dos livros inspirados, aqui também está uma base bíblica para a crença no Purgatório e para a oração em favor dos mortos.

3 – Com base nos ensinamentos de São Paulo, a Igreja entendeu também a realidade do Purgatório. Em 1Cor 3,10, ele fala de pessoas que construíram sobre o fundamento que é Jesus Cristo, utilizando uns, material precioso, resistente ao fogo (ouro, prata, pedras preciosas) e, outros, materiais que não resistem ao fogo (palha, madeira). São todos fiéis a Cristo, mas uns com muito zelo e fervor, e outros com tibieza e relutância. E S. Paulo apresenta o juízo de Deus sob a imagem do fogo a provar as obras de cada um. Se a obra resistir, o seu autor “receberá uma recompensa”; mas, se não resistir, o seu autor “sofrerá detrimento”, isto é, uma pena; que não será a condenação; pois o texto diz explicitamente que o trabalhador “se salvará, mas como que através do fogo”, isto é, com sofrimentos.

4 – Na passagem de Mc 3,29, também há uma imagem nítida do Purgatório:”Mas, se o tal administrador imaginar consigo: ‘Meu senhor tardará a vir’. E começar a espancar os servos e as servas, a comer, a beber e a embriagar-se, o senhor daquele servo virá no dia em que não o esperar (…) e o mandará ao destino dos infiéis. O servo que, apesar de conhecer a vontade de seu senhor, nada preparou e lhe desobedeceu será açoitado com numerosos golpes. Mas aquele que, ignorando a vontade de seu senhor, fizer coisas repreensíveis será açoitado com poucos golpes.” (Lc 12,45-48). É uma referência clara ao que a Igreja chama de Purgatório. Após a morte, portanto, há um “estado” onde os “pouco fiéis” haverão de ser purificados.

5 – Outra passagem bíblica que dá margem a pensar no Purgatório é a de (Lc 12,58-59): “Ora, quando fores com o teu adversário ao magistrado, faze o possível para entrar em acordo com ele pelo caminho, a fim de que ele não te arraste ao juiz, e o juiz te entregue ao executor, e o executor te ponha na prisão. Digo-te: não sairás dali, até pagares o último centavo.”

O Senhor Jesus ensina que devemos sempre entrar “em acordo” com o próximo, pois caso contrário, ao fim da vida seremos entregues ao juiz (Deus), nos colocará na “prisão” (Purgatório); dali não sairemos até termos pago à justiça divina toda nossa dívida, “até o último centavo”. Mas um dia haveremos de sair. A condenação neste caso não é eterna. A mesma parábola está´ em Mt 5, 22-26: “Assume logo uma atitude reconciliadora com o teu adversário, enquanto estás a caminho, para não acontecer que o adversário te entregue ao juiz e o juiz ao oficial de justiça e, assim, sejas lançado na prisão. Em verdade te digo: dali não sairás, enquanto não pagares o último centavo” . A chave deste ensinamento se encontra na conclusão deste discurso de Jesus: “serás lançado na prisão”, e dali não se sai “enquanto não pagar o último centavo”.

6 – A Passagem de São Pedro 1Pe 3,18-19; 4,6, indica-nos também a realidade do Purgatório:”Pois também Cristo morreu uma vez pelos nossos pecados (…) padeceu a morte em sua carne, mas foi vivificado quanto ao espírito. É neste mesmo espírito que ele foi pregar aos espíritos que eram detidos na prisão, aqueles que outrora, nos dias de Noé, tinham sido rebeldes (…).” Nesta “prisão” ou “limbo” dos antepassados, onde os espíritos dos antigos estavam presos, e onde Jesus Cristo foi pregar durante o Sábado Santo, a Igreja viu uma figura do Purgatório. O texto indica que Cristo foi pregar “àqueles que outrora, nos dias de Noé, tinham sido rebeldes”. Temos, portanto, um “estado” onde as almas dos antepassados aguardavam a salvação. Não é um lugar de tormento eterno, mas também não é um lugar de alegria eterna na presença de Deus, não é o céu. È um “lugar” onde os espíritos aguardavam a salvação e purificação comunicada pelo próprio Cristo.

Do livro: Purgatório. O que a Igreja ensina

Purgatório não é um lugar, mas um "fogo do amor", afirma Papa

Dedica a catequese a Santa Catarina de Gênova

O purgatório não é tanto um "espaço" onde as almas são purificadas, mas um "fogo interior" que purifica a pessoa e a torna capaz de contemplar Deus, afirmou hoje Bento XVI, durante a audiência geral.

Como de costume nos últimos meses, o Papa quis dedicar a catequese de hoje, realizada na Sala Paulo VI, a uma mulher, Santa Catarina de Gênova, conhecida por suas reflexões sobre a natureza do purgatório.

Esta mulher italiana, que viveu no século XVI, teve uma forte experiência interior de conversão, que a levou a renunciar à vida mundana que tinha levado até então, dedicando-se a cuidar dos doentes, até sua morte.

Catarina teve uma série de revelações místicas, que narrou em seu Tratado sobre o Purgatório e no Diálogo entre a alma e o corpo.

Ainda que nunca tenha tido revelações particulares sobre o purgatório, explicou o Papa, "nos escritos inspirados por nossa santa, é um elemento central, e a maneira de descrever isso tem características originais com relação à sua época".

A santa descreve o purgatório não tanto como um "lugar", como era habitual em sua época: "Não é apresentado como um elemento da paisagem das entranhas da terra: é um fogo interior, não exterior".

"Isso é o purgatório, um fogo interior", sublinhou o Papa.

A santa, em seus escritos, "fala do caminho de purificação da alma até a comunhão com Deus, partindo de sua própria experiência de profunda dor pelos pecados cometidos, em contraste com o amor infinito de Deus".

Catarina, no momento de sua conversão, "sente de repente a bondade de Deus, a distância infinita de sua própria vida dessa bondade e um fogo abrasador dentro dela. E este é o fogo que purifica, é o fogo interior do purgatório".

Outra das características de Catarina é que "não parte do Além para narrar os tormentos do purgatório - como era costume na época e talvez ainda hoje - e, em seguida, apontar o caminho para a purificação ou a conversão".

Ao contrário, "parte da experiência interior e pessoal de sua vida no caminho rumo à eternidade".

"Catarina afirma que Deus é tão puro e santo, que a alma, com as manchas do pecado, não pode se encontrar na presença da divina majestade."

Assim, "a alma é consciente do imenso amor e da perfeita justiça de Deus e, portanto, sofre por não ter respondido correta e perfeitamente a esse amor e, por isso, o próprio amor a Deus torna-se uma chama, o próprio amor a purifica das suas escórias de pecado".

Utilizando uma imagem da época, a santa explicava que Deus ata o ser humano "com um fio finíssimo de ouro, que é o seu amor, e o atrai a si com um carinho tão forte, que o homem permanece como superado, vencido e todo fora de si mesmo".

"Assim, o coração humano é invadido pelo amor de Deus, que se torna o único guia, o único motor da sua existência", acrescentou.

"Esta situação de elevação até Deus e de abandono à sua vontade, expressa na imagem do fio, é utilizada por Catarina para exprimir a ação da luz divina sobre as almas do purgatório, luz que as purifica e as eleva aos esplendores dos raios resplandecentes de Deus."

Assim, concluiu o Papa, "a santa nos recorda uma verdade fundamental da fé que se torna para nós um convite a rezar pelos defuntos, para que possam chegar à visão beatífica de Deus, na comunhão dos santos".

sábado, 8 de janeiro de 2011

Estudos confirmam riqueza da moral católica

Foi confirmada, por meio de estudos realizados pela Universidade de Princeton, a beleza do ensinamento da Igreja acerca da modéstia. Diz o Catecismo que “o pudor nasce pelo despertar da consciência do sujeito”. E arremata: “Ensinar o pudor a crianças e adolescentes é despertá-los para o respeito à pessoa humana” (§ 2524).

Pesquisas conduzidas por cientistas norte-americanos levaram-nos à conclusão de que homens vêem mulheres sensualizadas como objeto. Os estudiosos analisaram o comportamento de homens enquanto estes olhavam para a foto de uma mulher de biquíni; e descobriram que as seções do cérebro relacionadas à identificação de objetos ficaram mais ativas.

A Igreja Católica está certa, portanto, quando mostra a necessidade do resguardar-se, de conservar o corpo de maneira pura e santa, já que este corpo é, como dizem as Escrituras, o templo do Espírito Santo de Deus.

Também confirma a doutrina moral da Igreja outra pesquisa conduzida pela Universidade Brigham Young. Segundo este último estudo, a abstinência antes do casamento ajudaria vida sexual. As pessoas que praticaram abstinência até a noite do casamento deram notas relativamente mais altas para a estabilidade matrimonial do que as demais. A percepção desta verdade pode ser alcançada simplesmente por meio de uma ligeira investigação na mudança dos costumes. Há algumas décadas atrás, a castidade era uma prática comum entre os casais e os seus relacionamentos eram bem mais duradouros que os de hoje, que já têm relações sexuais bem antes de receber o Sacramento do Matrimônio. Retumbam, mais uma vez, em nossos corações as palavras do Magistério da Igreja:

“Hoje em dia, há muitos que reclamam uma espécie de ‘direito à experiência’, quando há intenção de contrair matrimônio. Seja qual for a firmeza do propósito daqueles que enveredam por relações sexuais prematuras, estas não permitem assegurar que a sinceridade e a fidelidade da relação interpessoal dum homem e duma mulher fiquem a salvo nem, sobretudo, que esta relação fique protegida de volubilidade dos desejos e dos caprichos. A união carnal só é legítima quando se tiver instaurado uma definitiva comunidade de vida entre o homem e a mulher. O amor humano não tolera o ‘ensaio’. Exige o dom total e definitivo das pessoas entre si.

- Catecismo da Igreja Católica, § 2391

Diante desta confirmação prática da verdade da moral católica, pedimos aos responsáveis pela elaboração de programas televisivos, às autoridades civis competentes, e também a todos os pais, que não permitam que esta ofensiva cultura pornográfica degrade ainda mais as bases de nossa sociedade. A Inglaterra já vive as tristes conseqüências de um violento processo de pornificação: aumento do índice de violência contra as mulheres, aceitação da prostituição, corrupção de menores etc. É isso que queremos que nossos filhos recebam como educação? Vamos aceitar calados a distribuição de material contendo ideias de permissivismo sexual em nossas escolas?

Nossa Senhora Aparecida interceda por esta Terra de Santa Cruz, para que sejamos livres da imoralidade e da impureza, mal que “rebaixa o homem à condição dos irracionais, arrasta-o a muitos outros pecados e vícios, e provoca os mais terríveis castigos de Deus nesta vida e na outra” (Catecismo de S. Pio X, n. 425).

Graça e paz.
Salve Maria Santíssima!

Bispo brasileiro deplora conteúdo de “kit gay”




A voz de um bispo da Igreja se levanta contra a distribuição em nossas escolas do que estão chamando de “kit gay”, um material cujo conteúdo tem a finalidade de equiparar o relacionamento heterossexual à sodomia. A medida proposta pelo MEC é um atentado ao direito que os pais têm de educar seus filhos cristãmente, ensinando-lhes que a prática homossexual é pecaminosa, contrária às leis do Altíssimo.


O vídeo acima integra o conteúdo do “kit gay” e narra a estória de André – ou Bianca, que é “como ele gosta de ser chamado”. Segue abaixo trecho do artigo do Arcebispo de Sorocaba, Dom Eduardo Benes.



“Compreendo ser esta uma questão delicada. Imagino o sofrimento de muitos adolescentes em suas próprias famílias, rejeitados quando apresentam sinais de identidade sexual mal definida. Devem, em primeiro lugar, receber o amor que é devido aos filhos. Em contexto de amor devem ser ajudados a encontrarem o caminho de sua própria realização como seres humanos descobrindo-se como (…) filhos de Deus, aprendendo a lidar com suas tendências e dificuldades afetivo-sexuais.”



Discordo, entretanto, totalmente das medidas ‘educativas’ que o MEC pretende adotar para combater a homofobia. Dentre essas medidas está um vídeo em que um jovem, de nome André, fisiológica e biologicamente do sexo masculino, narra sua luta ‘semi-dramática’ para firmar-se como Bianca, nome de sua atriz preferida. Tal vídeo fará parte do material didático para ‘inculturar’ uma diversidade sexual que colocaria no mesmo pé de igualdade comportamentos hetero e homossexuais (…). No caso trata-se da situação específica de um jovem que se sente portador de uma identidade feminina. Ele reclama de não poder usar a toillete das meninas e muito lhe desagrada ter seu nome masculino na lista de chamada da escola.”


(…)


“A moral cristã propõe como forma humanizante de lidar com a sexualidade a virtude da castidade pela qual o sexo se inscreve no horizonte do amor. Nesse sentido seria discriminação considerar a pessoa com tendência homossexual incapaz de autodomínio, reduzindo-a à sua própria tendência. Para o cristão, também para o filósofo pagão, Aristóteles, o caminho da felicidade é a virtude, que consiste na ordenação dos impulsos pelo império da reta razão.”


- Dom Eduardo Benes em Diversidade sexual na Escola


6 de janeiro de 2011

Epifania: cristãos são chamados a brilhar como filhos da luz

Intervenção por ocasião do Ângelus

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Queridos irmãos e irmãs:

Acabamos de celebrar, na Basílica, a festa da Epifania. Epifania quer dizer manifestação de Jesus a todas as pessoas, representadas hoje pelos Reis Magos, que foram do Oriente a Belém para prestar homenagem ao Rei dos Judeus, cujo nascimento haviam conhecido pelo aparecimento de uma nova estrela no céu (cf. Mt 2, 1-12). De fato, antes da chegada dos Reis Magos, este acontecimento era quase desconhecido fora do círculo familiar: além de Maria e José e, possivelmente, outros parentes, ele era conhecido pelos pastores de Belém, que, ao ouvir o alegre anúncio, foram ver o Menino, enquanto ainda estava na manjedoura. A vinda do Messias, o esperado pelas nações e anunciado pelos profetas, aconteceu assim, inicialmente de maneira oculta, até que, finalmente, aqueles misteriosos personagens chegaram a Jerusalém para pedir mais informações sobre o "Rei dos Judeus" recentemente nascido.

Obviamente, por se tratar de um rei, eles se dirigiram ao palácio real, onde residia Herodes; mas este não sabia nada sobre tal nascimento e, muito preocupado, convocou imediatamente os sacerdotes e escribas, os quais, baseados na célebre profecia de Miqueias (cf. 5,1), afirmaram que o Messias deveria nascer em Belém. E, de fato, seguindo naquela direção, os Reis Magos viram novamente a estrela, que os guiou até o lugar em que Jesus se encontrava. Entrando, eles se prostraram e o adoraram, oferecendo presentes simbólicos: ouro, incenso e mirra. Eis aqui a Epifania, a manifestação: a chegada e a adoração dos Reis Magos constituem o primeiro sinal da singular identidade do Filho de Deus, que é também filho da Virgem Maria. Desde então, começou a espalhar-se a pergunta que acompanhará toda a vida de Cristo e que, de diversas maneiras, atravessa os séculos: quem é este Jesus?

Queridos amigos, esta é a pergunta que a Igreja volta a suscitar no coração de todas as pessoas: quem é Jesus? Este é o anseio espiritual que inspira da missão da Igreja: dar a conhecer Jesus, seu Evangelho, para que cada pessoa possa descobrir em seu rosto humano o rosto de Deus e ser iluminado pelo seu mistério de amor.

A Epifania preanuncia a abertura universal da Igreja, sua vocação a evangelizar todos os povos. Mas a Epifania nos fala também da maneira como a Igreja realizada esta missão: refletindo a luz de Cristo e anunciando a sua Palavra. Os cristãos são chamados a imitar o papel que a estrela teve para os Reis Magos. Devemos brilhar como filhos da luz, para atrair todos à beleza do Reino de Deus. E aos que buscam a verdade, devemos oferecer a Palavra de Deus, que leva a reconhecer em Jesus "o verdadeiro Deus e a vida eterna" (1Jo 5,20).

Mais uma vez, sentimos uma profunda gratidão por Maria, a Mãe de Jesus. Ela é a imagem perfeita da Igreja, que oferece ao mundo a luz de Cristo: é a Estrela da Evangelização. "Respice Stellam", diz São Bernardo: olha para a Estrela, tu que buscas a verdade e a paz; dirige teu olhar a Maria e Ela te mostrará Jesus, luz para cada pessoa e para todos os povos.

[Tradução do original italiano realizada por ZENIT.

© Libreria Editrice Vaticana]

Liturgia da Palavra: Batismo de Jesus

Por Dom Emanuele Bargellini, Prior do Mosteiro da Transfiguração

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BATISMO DE JESUS

Batizados com Cristo e em Cristo para uma vida nova

Leituras: Is 42, 1- 4; 6-7; At 10, 34 -38; Mt 3, 13 -17

Com o domingo do Batismo de Jesus, terminará o tempo litúrgico da “manifestação do Senhor”. Iniciado com o primeiro domingo do Advento, este tempo teve seu centro na celebração do Natal e da Epifania, e hoje enfoca o Batismo de Jesus por mãos de João Batista. Este caminho iluminado pela liturgia, nos fez acompanhar o Senhor na sua descida progressiva através da fraqueza humana, feita própria com a sua Encarnação. Desde os primeiros passos no Advento, o coração contemplativo da Igreja teve seu olhar orientado para a páscoa do Senhor, cume da manifestação paradoxal da glória de Cristo no trono da cruz e na luz da Ressurreição. É a Páscoa que ilumina o sentido profundo do mistério da Encarnação e o conduz a seu cumprimento .

O evangelista Mateus nos apresenta a procura de Jesus por João e seu pedido de ser batizado junto com as demais pessoas que se reconhecem pecadoras e querem converter-se a Deus. Essa cena nos é apresentada como uma escolha bem consciente de Jesus. Ele defende esta alternativa mesmo frente às resistências do próprio João, motivando-a como uma obediente submissão de ambos ao projeto do Pai (Mt 3, 13-15). A Palavra de Deus, que por amor assumiu a fragilidade e as contradições da condição humana, quis descer até o fundo dessa situação assumindo sobre si até o pecado, para reconciliar todos e tudo com Deus (cf. Cl 1,20), dando início em si mesmo ao retorno do mundo à ordem e à paz original na submissão perfeita a Deus. “Aquele que não conhecera o pecado, Deus o fez pecado por causa de nós, a fim de que, por ele, nos tornemos justiça de Deus” (2 Cr 5,21). “Nas águas é lavado/ o celestial cordeiro; / O que não tem pecado / nos lava em si primeiro” (Hino das Vésperas – tempo do Natal a partir da Epifania).

O mergulhar de Jesus nas águas do rio Jordão desenvolve o processo da sua descida na carne (Natal) e antecipa a sua conclusão no “batismo” da sua Paixão e Morte (Páscoa) (cf. Mc 10, 39), com a descida aos infernos, onde o crucificado, que deu sua própria vida por amor, chama novamente Adão e Eva, as raízes simbólicas da existência humana, à vida nova dos resgatados como filhos e filhas de Deus. “Depois de ser batizado, Jesus saiu logo da água”. Com ele é o mundo inteiro que sai das obscuridades do pecado e inicia um novo caminho.

“No seu batismo Jesus é o lugar de contato entre a miséria humana e a misericórdia divina. Em seu coração se desfaz a massa triste do mal realizado pela humanidade e se renova a vida” (Bento XVI, Catequese de 7 de Jan, 2009).

Em Jesus, solidário como o Servo Sofredor do Senhor com os homens e as mulheres de todos os tempos em busca de salvação (1ª leitura de Is 42, 1-7), o Pai revela que na realidade “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus o meu agrado” (Mt 3,17). O profeta promete que no futuro, o espírito do Senhor será derramado sobre o Servo do Senhor para atuar sua missão libertadora em favor de Israel e das nações pagãs. Ele tomará cuidado com mansidão, perseverança e fortaleza de todas as situações de fragilidade, pois Deus faz justiça antes de tudo para os pobres (cf. 1ª leitura). Agora esse Espírito desce sobre Jesus na forma simbólica da pomba da paz, que somente o coração filial de Jesus vê descer do Pai e pousar sobre ele (Mt 3, 16). Em Jesus, o filho bem amado, se cumpre plenamente a profecia de Isaías, como o próprio Jesus afirmará no início da sua missão na sinagoga de Nazaré: “Hoje se cumpriu aos vossos ouvidos essa passagem da escritura” (Lc 4, 21).

As expectativas de todos os necessitados, prisioneiros de qualquer falha e constrangimento, podem voltar a esperar e enxergar a luz de um novo futuro, pois para todos chegou “o ano da graça do Senhor”, que não tem tempo limitado, mas é oferecido para os homens e as mulheres de todo tempo (cf. Lc 4,18-19).

Eis acontecer no batismo de Jesus a surpreendente revelação do amor sacrificado e criador do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Neste evento a fé da Igreja contempla mais uma vez a santa Trindade enquanto fica atuando o misterioso plano divino de salvação, dentro da história humana, através do Verbo de Deus feito carne. Essa mesma fé nos convida a ficarmos mergulhados nesta mesma comunhão com a santa Trindade, na qual estamos inseridos por força do nosso batismo. Afinal, não fomos nós batizados “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”?

A Igreja do Oriente interpreta muito bem este dinamismo da salvação através da humilhação-glorificação de Jesus no batismo e paixão, por meio da composição dos ícones do batismo de Jesus e da sua ressurreição, composição que exprime na linguagem simbólica da arte o profundo sentido teológico dos mistérios. Nos dois ícones a água do Jordão e a gruta dos infernos apresentam a mesma obscuridade, que Jesus, ao descer nela, penetra e vence com a energia luminosa e transformadora do Espírito Santo, pelo qual é permeado no batismo e ressuscitado da morte.

Os evangelhos dizem que após o batismo, Jesus, “pleno do Espírito Santo, voltou do Jordão; era conduzido pelo Espírito através do deserto durante quarenta dias e tentado pelo diabo” (Lc 4, 1-2). Jesus vive novamente o caminho de Israel no deserto, enfrenta as mesmas tentações, mas ele sai vencedor do diabo enganador, renovando a obediência ao Pai na força que vem da sua palavra e do Espírito.

Logo depois inicia a sua missão anunciando o reino de Deus e a exigência de entrar no seu caminho, manifestando-o já presente na potência da sua palavra e das suas obras de cura e de libertação, atuando num estilo de compaixão e misericórdia. A Igreja, corpo vivo de Cristo, vive desta experiência cotidiana da potência humilde e transformadora do Espírito e da misericórdia do Pai manifestada na mansidão acolhedora de Jesus. Aqui a Igreja reconhece a fonte da sua vida, a sua razão de existir, e o lugar de onde tem de modelar o estilo do seu ministério para anunciar a boa nova aos homens e às mulheres do nosso tempo.

Ela vive no “hoje” de Deus para que todas as pessoas possam gozar da vida plena de Deus a partir das próprias condições, curadas e sanadas pela sua misericórdia. O batismo de Jesus é fonte de graça para todos, mas também critério para examinar a si mesmos sobre a autenticidade do próprio caminho e do próprio serviço ao evangelho.

A liturgia das Horas do tempo da Epifania procura unir e contemplar juntos o evento da Epifania, o batismo de Jesus e a transformação da água em vinho nas núpcias de Caná (Jo 2, 1 -12), como partes de um único processo de revelação da glória de Cristo na humildade da carne. Os textos evangélicos que narram os episódios correspondentes são proclamados nos três domingos sucessivos. Nesta maneira a liturgia destaca também a unidade existencial entre os mistérios celebrados e a nossa experiência cotidiana no caminho da fé.

A antífona do Cântico do Benedictus, nas Laudes do dia da Epifania, canta: “Hoje a Igreja se uniu a seu celeste esposo, porque Cristo lavou no Jordão o pecado (batismo de Jesus ); para as núpcias reais correm magos com presentes (epifania –magos); e os convivas se alegram com a água feita vinho. Aleluia (núpcias de Caná).

Esta magnífica antífona apresenta, numa visão sintética e mística, o mistério da Encarnação e da revelação do Verbo de Deus na expansão das suas potencialidades. É o cumprimento das promessas a Israel (núpcias de Caná – Jo 2, 1-11) e a manifestação universal a todos os povos, culturas e religiões (epifania/magos – Mt 2, 1-12), através da solidariedade de Jesus com o pecado do mundo inteiro (batismo – Mt 3, 13-17) .

Epifania – Batismo – transformação da água em vinho em Caná constituem três painéis de um único trítico, de um único mistério que tem dimensões cósmicas: a celebração das núpcias de Deus com Israel e com toda a humanidade na Encarnação do Verbo e na sua manifestação humilde e potente.

No batismo da cruz, afirma São Paulo, Jesus “prepara e enfeita” a noiva para o casamento que ele está para realizar com a Igreja, e através da Igreja, com toda a humanidade. Ele a purifica de toda mancha, pelo banho do batismo que os cristãos vão receber no seu nome ( cf. Ef 5, 25 -27).

A purificação ascética e interior e a vida moral que os cristãos são chamados a conduzir, em força do próprio batismo em Cristo, têm a beleza e o sabor da preparação das vestes nupciais da esposa. É um processo interior que exige cuidado de si mesmo, sensibilidade, tempo, acompanhamento por parte de quem tem experiência e conhece a arte de guiar a si mesmo e o caminho dos outros. A arte da vida no Espírito. Crescer na vida espiritual até chegar a seguir, com a apropriada veste nupcial, o Cordeiro que vai festejar suas bodas com a Igreja, exige mais que o batismo pontual: pretende que se aprenda a viver sempre mergulhados nas águas batismais do amor (cf. Ap 7, 9 – 17). Esta visão da vida cristã proporcionada pela escritura e pela Igreja na liturgia natalina nos dá uma diferença de perspectiva e de pedagogia espiritual. Aqui nasce uma autêntica consciência moral capaz de orientar os cristãos nas escolhas de cada dia, a partir da experiência da transformação interior sustentada pelo Espírito de Jesus, e da relação esponsal com o Senhor, própria dos filhos e filhas de Deus renascidos com Cristo e em Cristo!

O texto da antífona das Laudes da Epifania nos envia ao mesmo tempo às profecias do Antigo Testamento e ao seu cumprimento definitivo no éscaton do Apocalipse.

Os profetas descreveram a relação do Senhor para com Israel em termos de relação nupcial estipulada por iniciativa gratuita do mesmo Senhor. Ele chega a renovar a sua esposa – depois das repetidas traições que esta cometeu – reconstituindo até sua virgindade e oferecendo-lhe como dote atitudes interiores autênticas (cf. Os. 2, 16; 21-22).

São João chama de “primeiro sinal” o gesto da transformação da água em vinho, cumprido por Jesus nas núpcias de parentes ou amigos em Caná, e acrescenta que “neste gesto Jesus manifestou a sua glória e os seus discípulos creram nele” (Jo 2,11).

Jesus é o “esposo” que cumpre finalmente aquela “aliança nova e eterna”, aquele “casamento inabalável” entre Deus e o novo Israel/humanidade preanunciado pelos profetas e inscrito no coração pelo Espírito de Deus (Jer 31, 31-34; Ez 36,26-27). A transformação da água em vinho, e vinho de ótima qualidade, diz simbolicamente a passagem definitiva da antiga à nova e perfeita aliança!

O batismo de Jesus – enquanto expressão da sua submissão ao Pai no amor e da sua solidariedade com o pecado dos homens – assim como o nosso encontro na fé e no batismo com Cristo, são eventos dinâmicos, um processo aberto. Jesus foi impelido pelo seu batismo até a cruz. O nosso batismo está sendo atuado com o progresso da nossa transformação nele e do nosso empenho a transformar a realidade em que vivemos.

Nos momentos mais significativos da vida da comunidade, como a grande Vigília pascal, ou periodicamente nos domingos, renovamos as promessas do nosso batismo, como confirmação e desenvolvimento da nossa participação no dinamismo renovador do batismo e da páscoa de Cristo, no “hoje” sempre novo de Deus.

Que o Senhor nos conceda chegar a cantar de verdade, em primeira pessoa, e em comunhão com a Igreja e a humanidade inteira: “Hoje a Igreja se uniu a seu celeste esposo, porque Cristo lavou no Jordão o pecado; para as núpcias reais correm magos com presentes; e os convivas se alegram com a água feita vinho. Aleluia .

Epifania: primeiro sinal da singular identidade do Filho de Deus

Mensagem do Papa no Ângelus de hoje

Por outro lado, o Pontífice também recordou o Dia da Infância Missionária, proposta pela Pontifícia Obra da Santa Infância; agradeceu e abençoou todas as crianças que participam dela.

Quem é Jesus?

Antes de rezar o Ângelus, Bento XVI se referiu ao significado da "vinda e adoração dos Magos" como "o primeiro sinal da singular identidade do Filho de Deus, que é também filho da Virgem Maria".

Explicou que, "desde então, começou a espalhar-se a pergunta que acompanhará toda a vida de Cristo e que, de diversas maneiras, atravessa os séculos: quem é este Jesus?" e disse que "esta é a pergunta que a Igreja volta a suscitar no coração de todas as pessoas".

"Este é o anseio espiritual que inspira a missão da Igreja: dar a conhecer Jesus, seu Evangelho, para que cada pessoa possa descobrir em seu rosto humano o rosto de Deus e ser iluminado pelo seu mistério de amor."

Também indicou que a Epifania "preanuncia a abertura universal da Igreja" e "nos fala também da maneira como a Igreja realizada esta missão: refletindo a luz de Cristo e anunciando a sua Palavra".

"Os cristãos são chamados a imitar o papel que a estrela teve para os Reis Magos. Devemos brilhar como filhos da luz, para atrair todos à beleza do Reino de Deus."

"E aos que buscam a verdade - concluiu -, devemos oferecer a Palavra de Deus, que leva a reconhecer em Jesus ‘o verdadeiro Deus e a vida eterna'."

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Uma resposta cristã ao racionalismo

Apresentamos a terceira meditação do Advento pronunciada pelo pregador da Casa Pontifícia, Pe. Raniero Cantalamessa, OFMCap, diante de Bento XVI e da Cúria Romana.


"Estai sempre prontos a dar a razão da vossa esperança" (1Pe 3,15).


1. A razão usurpadora

O terceiro obstáculo que faz parte da cultura moderna, "refratária" ao Evangelho, é o racionalismo. Sobre isso falaremos nesta última meditação do Advento.

O cardeal e, agora, Beato John Henry Newman, deixou-nos um discurso memorável, proferido em 11 de dezembro de 1831, na Universidade de Oxford, intitulado The Usurpation of Raison, a usurpação ou a prevaricação da razão. Neste título já está a definição do que entendemos como racionalismo [1]. Numa nota explicativa a este discurso, escrita no prefácio à sua terceira edição, de 1871, o autor explica o que quer dizer com esse termo. Por usurpação da razão - diz - se entende "certo abuso generalizado dessa faculdade quando se fala de religião sem um conhecimento íntimo ou sem o respeito devido aos princípios fundamentais desta. Essa ‘razão' é chamada ‘sabedoria do mundo' nas Escrituras é a compreensão de religião dos que têm a mentalidade secularista e se baseiam em máximas do mundo, que lhes são intrinsecamente alheias" [2].

Em outro de seus sermões na universidade, intitulado "Fé e Razão comparadas", Newman ilustra por que a razão não pode ser o juiz supremo em matéria de religião e de fé, com a analogia da consciência:

"Ninguém - escreve - dirá que a consciência se opõe à razão, ou que seus preceitos não podem ser apresentados em forma de argumento; no entanto, quem, a partir disso, argumentará que a consciência não é um princípio original, mas que, para atuar, precisa atender o resultado de um processo lógico-racional? A razão analisa os fundamentos e os motivos da ação, sem ser ela mesma um destes motivos. Portanto, a consciência é um elemento simples da nossa natureza e, no entanto, suas operações admitem ser justificadas pela razão, sem com isso depender realmente dela [...]. Quando se diz que o Evangelho exige uma fé racional, pretende-se dizer somente que a fé concorda com a reta razão em abstrato, mas não que seja realmente seu resultado" [3].

Uma segunda analogia é a da arte. "O crítico de arte - escreve - avalia o que ele mesmo não sabe criar, assim também a razão pode dar sua aprovação ao ato da fé, sem por isso ser a fonte da qual a fé emana" [4].

A análise de Newman possui recursos novos e originais: destaca a tendência, imperialista, por assim dizer, da razão a submeter todo aspecto da realidade aos próprios princípios. É possível, entretanto, considerar o racionalismo ainda de um outro ponto de vista, intimamente ligado ao anterior. Para ficar na metáfora política empregada por Newman, podemos definir como atitude de isolamento, de fechar-se a essa mesma razão. Isso não consiste tanto em invadir o campo de outros, mas em não reconhecer a existência de outro campo fora do seu próprio. Em outras palavras, na negação de que possa haver verdade fora da que passa através da razão humana.

Desse modo, o racionalismo não nasceu com o iluminismo. É uma tendência contra a qual a fé sempre teve de lidar. Não só a fé cristã, mas também a hebraica e a islâmica, pelo menos na Idade Média, conheceram esse desafio.

Contra essa afirmação de absolutismo da razão, levantou-se em cada época a voz não só de homens de fé, mas também de militantes no campo da razão, filosofia e ciência. "O ato supremo da razão, escreveu Pascal, está em reconhecer que existe uma infinidade de coisas que a sobrepassam" [5]. No mesmo instante em que a razão reconhece seu limite, ela o rompe e o supera. É por obra da razão que se produz este reconhecimento que é, por isso, um ato puramente racional. Essa é, literalmente, uma "douta ignorância" [6]. Um ignorar "com conhecimento de causa", sabendo que se está ignorando.

Devemos, portanto, dizer que estabelece um limite para a razão e a humilha aquele que não reconhece nela esta capacidade de transcender-se. "Até agora, escreveu Kierkegaard, sempre se falou assim: ‘Dizer que não se pode entender esta coisa ou aquela não satisfaz a ciência que deseja conhecer'. Esse é o erro. É preciso dizer exatamente o oposto: onde a ciência humana não quer reconhecer que há algo que ela não pode compreender ou - ainda mais preciso - qualquer coisa que da qual a ciência, pode entender com clareza ‘que não pode entender', então tudo estará desordenado. É, portanto, uma tarefa do conhecimento humano compreender que existem essas coisas e quais são essas coisas que ela não pode compreender" [7].

2. Fé e sentido do sagrado

Espera-se que este tipo de desafio mútuo entre fé e razão continue no futuro. É inevitável que cada época refaça o caminho por conta própria, mas nem os racionalistas converterão as pessoas de fé e nem serão convertidos por elas. É preciso encontrar uma maneira de romper com esse círculo e liberar a fé desse gargalo. Em todo esse debate sobre a razão e a fé, é a razão que impõe sua escolha e força a fé, por assim dizer, a jogar fora de casa e na defensiva.

Disso, o cardeal Newman estava bem consciente, e, em outro de seus discursos universitários, adverte contra o risco da mundanização da fé em seu desejo de correr atrás da razão. Ele dizia entender, embora sem poder aceitar plenamente, as razões dos que são tentados a separar completamente a fé da investigação racional, por causa do "antagonismo e das divisões fomentadas da argumentação e debates, a confiança orgulhosa que geralmente acompanha o estudo das provas apologéticas, a frieza, o formalismo, o espírito secularista e carnal, enquanto a Escritura fala da religião como de uma vida divina, radicada no afeto e manifestada na graça espiritual" [8].

Em todo trabalho de Newman sobre a relação entre razão e fé, então não menos debatida que hoje, há uma ressalva: não é possível combater um racionalismo com outro, talvez contrário. É necessário encontrar outro caminho que não pretenda substituir a da defesa racional da fé, mas, que, pelo menos, a acompanhe, ainda porque os destinatários do anúncio cristão não são os intelectuais, capazes de envolver-se nesse tipo de confronto, mas a massa de pessoas comuns indiferente a isso e mais sensível a outros argumentos.

Pascal propunha o caminho do coração: "O coração tem razões que a própria razão desconhece" [9]; os românticos (Schleiermacher, por exemplo) propunham o do sentimento. Ainda existe, penso, um caminho a percorrer: a da experiência e do testemunho. Não pretendo aqui falar da experiência pessoal, subjetiva, da fé, mas de uma experiência universal e objetiva que podemos, por isso, fazer valer mesmo no confronto com pessoas alheias à fé. Ela não nos leva à fé plena e salvadora, a fé em Jesus Cristo morto e ressuscitado, mas pode ajudar a criar nessas pessoas a base que é a abertura ao mistério, a percepção de algo que está acima do mundo e da razão.

A contribuição mais notável que a moderna fenomenologia da religião ofereceu à fé, principalmente na forma que ela toma na clássica obra de Rudolph Otto, "O Sagrado" [10], é ter demonstrado que a afirmação tradicional que de existe algo que não se explica com a razão, não é um pressuposto teórico ou de fé, mas um dado primordial de experiência.

Existe um sentimento que acompanha a humanidade desde seus primórdios até o presente em todas as religiões e culturas: o autor o chama de o sentimento do numinoso. (No intuito de elucidar as características irracionais peculiares do sagrado, o autor cria o neologismo numinoso, derivado do termo latino numen, que significa deidade ou influxo divino. Explica ele que o elemento numinoso pode ser identificado como um princípio ativo presente na totalidade das religiões, portador da ideia do bem absoluto. Quando se refere ao numinoso, esclarece que é "uma categoria especial de interpretação e de avaliação e, da mesma maneira, de um estado de alma numinoso que se manifesta quando esta categoria se aplica, isto é, sempre que um objeto se concebe como numinoso", N. da T.) [11]. Esse é um dado primário, irredutível a qualquer outro sentimento ou experiência humana; toma o homem como uma emoção quando, por qualquer circunstância externa ou interna a ele, se encontra diante da revelação do mistério "tremendo e fascinante" do sobrenatural.

Otto designa o objeto desta experiência com o adjetivo "irracional" (o subtítulo da obra é "Sobre o Irracional na Ideia do Divino e sua Relação com o Irracional"); mas toda a obra demonstra que o sentido que ele dá ao termo "irracional" não é o de "contrário à razão", mas o de "além da razão", de não traduzível em termos racionais. O numinoso se manifesta em graus diferentes de pureza: do estado mais bruto, que é a reação mais inquietante suscitada pelas histórias de espíritos e fantasmas, ao estado mais puro, que é a manifestação da santidade de Deus - o Qadosh bíblico - como na célebre cena da vocação de Isaías (Is 6, 1ss).

Se é assim, a evangelização do mundo secularizado passa também pela recuperação do sentido do sagrado. O terreno de cultura do racionalismo - sua causa e, ao mesmo tempo, seu efeito - é a perda do sentido do sagrado. É necessário, por isso, que a Igreja ajude os homens a subir a montanha e redescobrir a presença e a beleza do sagrado no mundo. Charles Péguy disse que "a assustadora penúria do sagrado é a marca profunda do mundo moderno". Isso é evidente em cada aspecto da vida, mas especialmente na literatura e na linguagem de todos os dias. Para muitos autores, ser definido como "dessacralizado" não é mais uma ofensa, mas um elogio.

A Bíblia foi acusada por vezes de ter "dessacralizado" o mundo por ter perseguido ninfas e divindades das montanhas, dos mares e dos bosques e ter feito destas simples criaturas a serviço do homem. Isso é verdade, mas foi justamente despojando-lhes desse falso pretexto de divindade que a Escritura pôde restituir-lhes sua genuína natureza de "sinal" do divino. A Bíblia combate a idolatria das criaturas, não sua sacralidade.

Assim, "secularizado", o criado tem agora mais poder de provocar a experiência do numinos e do divino. De uma experiência desse gênero carrega o sinal, em minha opinião, a célebre declaração de Kant, o representante mais ilustre do racionalismo filosófico:

"Duas coisas enchem o coração de admiração e veneração, sempre novas e sempre crescentes, à medida que a reflexão se dirige e se consagra a elas: o céu estrelado acima de mim e a lei moral dentro de mim (...); o primeiro espetáculo, de uma inumerável multidão de mundos, aniquila, por assim dizer, a minha importância, por ser eu uma criatura animal que deve voltar à matéria de que é formado o planeta (um simples ponto no Universo) depois de (não se sabe como) ter sido dotada de força vital durante curto espaço de tempo. O segundo espetáculo, ao contrário, eleva infinitamente o meu valor, como o de uma inteligência por minha personalidade, na qual a lei moral me manifesta uma vida independente da animalidade e até mesmo de todo o mundo sensível (1994, p.102)" [12].

Um cientista vivo, Francis Collins, há pouco nomeado acadêmico pontifício, em seu livro "A Linguagem de Deus", descreve assim o momento de sua volta à fé: "Numa bela manhã de outono, enquanto, pela primeira vez, passeando pela montanha, fui empurrado para o oeste do Mississipi, a majestosidade e beleza da criação venceram minha resistência. Entendi que a busca tinha chegado ao fim. Na manhã seguinte, quando o sol surgiu, ajoelhei-me sobre na grama molhada e me rendi a Jesus Cristo" [13].

As mesmas descobertas maravilhosas da ciência e da tecnologia, ao invés de levarem ao desencantamento, podem chegar a ser ocasiões de admiração e de experiência do divino. O momento final da descoberta do genoma humano é descrito pelo próprio Francis Collins, que foi o chefe da equipe que chegou a tal descoberta, "uma experiência de exaltação científica e ao mesmo tempo de adoração religiosa". Entre as maravilhas da criação, nada é mais maravilhoso que o homem e, no homem, sua inteligência criada por Deus.

A ciência se desespera agora para tocar um limite extremo na exploração do infinitamente grandioso que é o universo e na exploração do infinitamente pequeno que são as partículas subatômicas. Alguns fazem desta "desproporção" um argumento a favor da inexistência de um Criador e da insignificância do homem. Para os crentes, esses são o sinal por excelência não só da existência, mas também dos atributos de Deus: a vastidão do universo é sinal de sua infinita grandeza e transcendência; a pequenez do átomo, da sua imanência e da humildade da sua encarnação, que o levou a fazer-se criança no seio de uma mãe e minúsculo pedaço de pão nas mãos do sacerdote.

Mesmo na vida humana, não faltam ocasiões nas quais é possível fazer a experiência de uma "outra" dimensão: a paixão, o nascimento do primeiro filho, uma grande alegria. É preciso ajudar as pessoas a abrir os olhos e reencontrar a capacidade de surpreender-se. "Quem se surpreende, reinará", afirma um ditado atribuído a Jesus fora dos Evangelhos [14]. No romance "Os Irmãos Karamazov", Dostoiévski refere as palavras que o starets Zózimo, ainda um oficial do exército, fala aos presentes, no momento em que, tocado pela graça, renuncia a duelar com o adversário: "Senhores, olhai em volta os dons de Deus: este céu límpido, este ar puro, essa grama terna, estes passarinhos; a natureza é tão bela e inocente, enquanto nós, só nós, estamos longe de Deus e somos estúpidos e não compreendemos que a vida é um paraíso, uma vez que seria suficiente que quiséssemos compreender e, imediatamente aquilo se instauraria com toda sua beleza e nós nos abraçaríamos e romperíamos em lágrimas" [15]. Este é o verdadeiro sentido da sacralidade do mundo e da vida!

3. Necessidade de testemunhas

Quando a experiência do sagrado e do divino chega súbita e inesperada de fora de nós e é acolhida e cultivada, torna-se experiência subjetiva vivida. Temos assim as "testemunhas" de Deus que são santos e, de modo especial, uma categoria destes, os místicos.

Os místicos, segundo uma definição célebre de Dionísio o Areopagita, são aqueles que "padeceram Deus" [16], isto é, participaram e viveram o divino. São, para o restante da humanidade, como exploradores que entraram primeiro, secretamente, na Terra Prometida e depois voltaram para contar o que tinham visto - "uma terra que emana leite e mel" - e exortar todo o povo a atravessar o Jordão (cf. Nm 14,6-9). Por meio deles, chegam a nós, nesta vida, os primeiros raios da vida eterna.

Quando lemos seus escritos, parecem distantes e até ingênuos os mais sutis argumentos dos ateus e racionalistas! Nasce, na relação com estes últimos, um sentido de surpresa e até de lástima como diante de alguém que fala de coisas que não conhece. Como alguém que acreditasse ter descoberto contínuos erros de gramática num interlocutor e não se desse conta que este está simplesmente falando uma outra língua que ele não conhece. Mas não há nenhuma vontade de confronto, mesmo as palavras em defesa de Deus parecem, naquele momento, vazias e fora de lugar.

Os místicos são, por excelência, aqueles que descobriram que Deus "existe", e mais ainda, que não somente existe realmente como infinitamente mais real que aquilo que chamamos realidade. Foi precisamente de um destes encontros que uma discípula do filósofo Husserl, judia e ateia convicta, uma noite descobriu o Deus vivo. Falo de Edith Stein, depois Santa Teresa Benedita da Cruz. Hospedada por amigos cristãos, quando estes precisaram ausentar-se uma noite, sozinha na casa e sem saber o que fazer, tomou um livro da biblioteca dos amigos e começou a ler. Era a autobiografia de Santa Teresa de Ávila. Atravessou a noite lendo. Chegada ao final, exclamou simplesmente: "Esta é a verdade!" No início da manhã, foi à cidade para comprar um catecismo católico e um missal e, depois de tê-los estudado, dirigiu-se a uma igreja próxima e solicitou o Batismo ao sacerdote.

Eu também fiz uma pequena experiência do poder que os místicos têm de fazer-nos tocar o sobrenatural. Era o ano em que se discutia muito o livro de um teólogo intitulado "Existe Deus? ("Existiert Gott?"); mas, terminada a leitura, poucos estavam preparados para trocar o ponto de interrogação do livro para o de exclamação. Indo a um congresso, tinha levado comigo o livro dos escritos da Beata Angela de Foligno, que eu ainda não conhecia. Fiquei literalmente deslumbrado; levava o livro comigo nas conferências, abria-o a cada intervalo e, no final, eu o fechei dizendo a mim mesmo: "Se Deus existe? Não só existe, mas é realmente fogo devorador!".

Infelizmente, certa moda literária conseguiu neutralizar até a "prova" viva da existência de Deus que são os místicos. E o fizeram com um método único: não reduzindo seu número, mas aumentando-o; não restringindo o fenômeno, mas expandindo-o dramaticamente. Me refiro àqueles que, numa resenha sobre místicos, em antologias de seus escritos ou numa história da mística colocam lado a lado, como parte do mesmo gênero de fenômenos, São João da Cruz e Nostradamus; santos e excêntricos; mística cristã e cabala medieval; hermetismo, teosofismo, formas de panteísmo e até alquimia. Os verdadeiros místicos são outra coisa e a Igreja tem razão de ser rigorosa no juízo sobre eles.

O teólogo Karl Rahner, tomando, ao parecer, uma frase de Raimondo Pannikar, afirmou: "O cristão de amanhã, ou será um místico, ou não será". Tentava dizer que, no futuro, manter viva a fé dependerá do testemunho de pessoas que possuem uma profunda experiência de Deus, mais que a demonstração de sua plausibilidade racional. Paulo VI dizia, no fundo, a mesma coisa quando afirmava, na Evangelii nuntiandi (n.41): "O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres, dizíamos ainda recentemente a um grupo de leigos, ou então, se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas".

Quando o apóstolo Pedro recomendava aos cristãos a estar "prontos a dar razão da vossa esperança" (1Pe 3,15), é certo, no contexto, que ele não falava da razão especulativa ou dialética, mas da razão prática, ou seja, da sua experiência de Cristo, unida ao testemunho apostólico que a garantia. Num comentário a este texto, o cardeal Newman fala de "razões implícitas" que são, para os crentes, mais intimamente persuasivas que as razões explícitas e argumentativas [17].

4. Um salto de fé no Natal

Chegamos, assim, à conclusão prática que mais nos interessa numa meditação como esta. Da irrupção imprevista do sobrenatural na vida não precisam só os que não creem e os racionalistas; necessitamos também nós, crentes, para reanimar a nossa fé. O maior perigo que correm as pessoas religiosas é de reduzir a fé a uma sequência de ritos e de fórmulas, repetidas, mesmo que com cuidado, mecanicamente e sem a íntima participação de todo o ser. "Esse povo me procura só de palavra, honra-me apenas com a boca, enquanto o coração está longe de mim. Seu temor para comigo é feito de obrigações tradicionais e rotineiras" (Is 29, 13).

O Natal pode ser uma ocasião privilegiada para ter esse salto de fé. Isso é a suprema "teofania" de Deus, a mais alta "manifestação do Sagrado". Infelizmente, o fenômeno do secularismo está despojando esta festa de seu caráter de "mistério tremendo" - isto é, que induz ao santo temor e à adoração - para reduzi-lo somente ao aspecto de "mistério fascinante". Fascinante, o que é pior, somente no sentido natural, não sobrenatural: uma festa dos valores familiares, do inverno, da árvore, das renas e do Papai Noel. Existe, em alguns países, a intenção de trocar o nome de "Natal" por "festa da luzes". Em poucos casos a secularização é tão visível como no Natal.

Para mim, o caráter "numinoso" do Natal está ligado a uma memória. Assisti, um ano, à Missa do Galo, presidida por João Paulo II, em São Pedro. Chegou o momento do canto da Kalenda, ou seja, a solene proclamação do nascimento do Salvador, presente no antigo Martirológio e reintroduzida na liturgia natalina depois do Vaticano II:

"Tendo transcorridos muitos séculos desde a criação do mundo
Treze séculos depois da saída de Israel do Egito
Na centésima nonagésima quarta Olimpíada
No ano 752 da fundação de Roma
No quadragésimo segundo ano do Império de César Augusto
Jesus Cristo, Deus eterno e Filho eterno do Pai, tendo sido concebido por obra do Espírito Santo, tendo transcorrido nove meses, nasce em Belém da Judeia, da Virgem Maria, feito homem."

Chegados a estas últimas palavras, senti aquilo que se chama "unção da fé": uma repentina clareza interior, pela qual me lembro de dizer a mim mesmo: "É verdade! É tudo verdade isto que se canta! Não são somente palavras. O eterno entra no tempo. O último evento da série rompeu a série; criou um "antes" e um "depois" irreversível (olimpíada número tal, reinado de tal...); agora tudo ocorre em relação a um único evento". Uma súbita comoção atravessou toda a minha pessoa, enquanto só podia dizer: "Obrigado, Santíssima Trindade; e obrigado também a Vós, Santa Mãe de Deus!".

Ajuda muito a tornar o Natal a ocasião para um salto de fé, encontrar espaços de silêncio. A liturgia envolve o nascimento de Jesus no silêncio: "Dum medium silentium tenerent omnia", enquanto tudo em volta era silêncio. "Stille Nacht", noite de silêncio, é chamado o Natal num dos mais populares e amados cantos natalinos. No Natal, devemos sentir como dirigido a nós o convite do Salmo: "Parai! Sabei que eu sou Deus, excelso entre as nações, excelso sobre a terra" (Sl 46,11).

A Mãe de Deus é o modelo insuperável deste silêncio natalino: "Maria, porém, guardava todas estas coisas, meditando-as no seu coração” (Lc 2, 19). O silêncio de Maria no Natal é mais que um simples calar-se; é maravilha, é adoração, é um "religioso silêncio", um ser "oprimido pela realidade". A interpretação mais real do silêncio de Maria é aquela encontrada nos antigos ícones bizantinos, onde a Mãe de Deus aparece imóvel, com o olhar fixo, os olhos arregalados, como quem viu algo que as palavras não podem expressar. Maria, antes de todos, elevou a Deus o que São Gregório Nazianzeno chama "um hino de silêncio" [18].

Vive realmente o Natal quem é capaz de fazer hoje, depois de tantos séculos, o que teria feito se estivesse presente naquele dia. Quem faz o que Maria ensinou: ajoelhar-se, adorar e calar!

[1] J.H. Newman, Oxford University Sermons, London 1900, pp.54-74; trad. Ital. di L. Chitarin, Bologna, Edizioni Studio Domenicano, 2004, pp. 465-481.

[2] Ib.p. XV (trad. ital. Cit. p.726).

[3] Ib., p. 183 (trad. ital. Cit. p.575).

[4] Ibidem.

[5] B.Pascal, Pensieri 267 Br.

[6] S. Agostino, Epist. 130,28 (PL 33, 505).

[7] S. Kierkegaard, Diario VIII A 11.

[8] Newman, op. cit., p. 262 (trad. ital. cit., p. 640 s).

[9] B. Pascal, Pensieri, n.146 (ed. Br. N. 277).

[10] Otto, Rudolf (1992) O Sagrado. Sobre o Irracional na Ideia do Divino e sua Relação com o Irracional. Lisboa: Edições 70.

[11] Bay, Dora (2004) Fascínio e Terror: O Sagrado. Cadernos de Pesquisa Interdisciplinar em Ciências Humanas, número 61, Universidade Federal de Santa Catarina.

[12] E. Kant, Textos seletos. Introdução de Emmanuel Carneiro Leão. 3.ed. Petrópolis: Vozes, 2005.

[13] F. Collins, The Language of God. A Scientist Presents Evidence for Belief, Free Press 2006, pp. 219 e 255.

[14] In Clemente Alessandrino, Stromati, 2, 9).

[15] F. Dostoevskij, I Fratelli Karamazov, parte II, VI,

[16] Dionigi Areopagita, Nomi divini II,9 (PG 3, 648) ("pati divina").

[17] Cf. Newman, "Implicit and Explicit Reason", in University Sermons, XIII, cit., pp. 251-277

[18] S. Gregorio Nazianzeno, Carmi, XXIX (PG 37, 507).

Não somos absolutamente de perder o ânimo

“Pois vos é necessária a perseverança para fazerdes a vontade de Deus e alcançardes os bens prometidos. Ainda um pouco de tempo – sem dúvida, bem pouco – e o que há de vir virá e não tardará. Meu justo viverá da fé. Porém, se ele desfalecer, meu coração já não se agradará dele. Não somos absolutamente de perder o ânimo para nossa ruína; somos de manter a fé para nossa salvação!” (Hb 10, 36-39).

Caminhamos todo o ano de 2010 sob a moção das “portas abertas”, conforme palavra que recebemos em Isaías 45,1 e Apocalipse 3, 7-8, e muitos foram os testemunhos de pessoas que viram portas se abrirem nas suas vidas, criando novas oportunidades de trabalho, de estudo, de restauração nas famílias. Muitos também testemunharam terem recebido resposta às orações que vinham fazendo há anos. Estes precisam agradecer a Deus de todo coração por terem recebido essas graças. Porém quero lembrar que essas passagens são desdobramentos de uma grande promessa feita a nós em 2007, quando recebemos a passagem de Isaías 45, versículos de 15 a 18, onde o Senhor nos diz que Ele habita em nossa casa, que não nos criou para a confusão e desordem, mas que organiza a nossa vida para que vivamos. Junto com essa palavra, o Senhor nos deu também a seguinte palavra de sabedoria: “Quero que voltem a esperar milagres e a enfrentar os problemas de sua vida com fé”. Recebemos ainda essa linda profecia: “Não te preocupa, Eu já comecei a agir. Verás um por um dos teus problemas se resolvendo, dissolvendo-se como fumaça, porque o teu Deus entrou em ação. Quero que o teu coração não trema diante do que parece um problema novo porque Eu cuido desse também. Quando aparecerem os desafios, lembra de recorrer a mim. Coloco dentro de ti recursos de paz, de sabedoria e de iniciativa que dá certo,mas precisas pedi-los a mim, Eu os liberarei. Caminhará sob o brilho da minha glória e ela será como uma película de felicidade sobre a tua vida. Renuncia à tristeza, confia em mim, espera em mim, te refugia em mim”.

Diante de tais promessas, a moção que inicia o ano de 2011 é principalmente para aqueles que ainda não as viram se realizar nas suas vidas. Nós lemos no livro do profeta Isaías que a palavra de Deus não volta sem ter produzido seu efeito, sem ter executado a vontade de Deus e cumprido sua missão. Se o Senhor diz, através de sua Palavra, que portas se abrirão, que a confusão, a desordem e a vergonha desaparecerão da nossa casa, então podemos crer com absoluta certeza que isso vai acontecer. Um dia a bênção de Deus nos alcançará, um dia as nossas preces serão atendidas. E quando virmos os outros dando testemunho de portas que se abriram e de bênçãos que chegaram poderemos ficar felizes por eles e por nós mesmos, pois é Deus sinalizando que um dia também veremos milagres acontecendo nas nossas vidas.

Enquanto isso não acontecer, a palavra de Deus não voltará para Ele, pois ela jamais volta vazia, sem ter realizado com seu propósito. Se você ainda não alcançou as promessas contidas na palavra de Deus, então você ainda está caminhando sob a moção das portas abertas.

Podemos orar assim: “Retira, Senhor, no poder do teu nome, todo medo, toda sensação de impotência e incredulidade e cria em nós, no poder do Espírito Santo, um novo padrão mental, uma nova atitude de fé. Peço ainda que laves no teu sangue a mim e à minha família, retirando todas as deformidades, tudo o que nos foi desviando do plano original de Deus Pai para as nossas vidas e coloca em nós o justo equilíbrio, estabilizando emoções, valores, visão do mundo e de nós mesmos. Isso te pedimos, Senhor, e desde já te agradecemos. Amém”.

Maria Beatriz Spier Vargas
Secretária-geral do Conselho Nacional da RCCBRASIL