Sobre a Pastoral da Criança, candidata a Nobel da Paz
ROMA, quarta-feira, 13 de janeiro de 2010 (ZENIT.org).- Entre os candidatos ao Prêmio Nobel da Paz do ano 2001 estava a Pastoral da Criança, fundada e coordenada pela médica Zilda Arns. Na ocasião, a sanitarista conversou em Roma com o editor-chefe da ZENIT, o jornalista Jesús Colina. Em homenagem a Zilda Arns, morta no terremoto do Haiti, publicamos a entrevista, inédita em português.
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–Qual é a contribuição que a Pastoral da Criança oferece à luta contra a desnutrição e mortalidade infantil no Brasil?
–Zilda Arns Neumann: Respondo-lhe com alguns dados. Os 150.000 voluntários [hoje são 260.000, N. do R.] da Pastoral da Criança trabalham cada um deles com entre 10 e 20 famílias. Ensinam coisas muito simples –costumam ser pessoas com um grau de instrução muito baixo–, mas indispensáveis para a saúde das crianças: nutrição de mães gestantes, lactância materna, reidratação oral, vacinas. Ocupamo-nos da educação de 1,6 milhão [hoje 1,8 milhão] de crianças desde que nascem até os seis anos. Cada ano, além disso, ensinamos 32.000 adultos a ler e a escrever, quase sempre mães. Tudo isso influi na alfabetização e na redução da mortalidade infantil em todo o país. A desagregação familiar no Brasil é uma chaga. Os homens, frequentemente, abandonam a mulher e os filhos.
–De modo que sua atividade em grande parte se dirige às mulheres?
–Zilda Arns Neumann: Sim, as mulheres têm muito interesse em ser agentes de transformação. Querem aprender para poder criar melhor seus filhos. De nossos 150.000 voluntários, 130.000 são mulheres que pertencem ao mesmo ambiente. Aprendem com rapidez e na Pastoral encontram uma família e têm como ponto de referência Deus.
–Portanto, nas comunidade pobres existe uma forte orientação religiosa?
–Zilda Arns Neumann: Muitas de nossas voluntárias não praticam nenhuma religião. Mas os princípios que lhes ensinamos são profundamente cristãos, como a solidariedade e a justiça social.
–Qual foi seu maior êxito nesses 17 anos?
–Zilda Arns Neumann: A redução de 60% da mortalidade infantil e da desnutrição em 50%, e a diminuição da violência dentro das famílias. Nunca houve este tipo de educação popular na história do Brasil. A porcentagem de crianças que vivem na miséria é altíssima.
–Pensa que o governo do Brasil deve se comprometer mais em melhorar a vida dessas crianças?
–Zilda Arns Neumann: Os indicadores demonstram que a assistência à escola está aumentando e também o nível de saúde. Isso prova que o compromisso do governo é efetivo e está aumentando. Mas a Pastoral pensa que, para obter melhores resultados, faz falta uma grande atenção ao tecido social. Por isso, nós, entre outras coisas, tentamos criar redes de solidariedade nas comunidades dos pobres. O objetivo é aumentar a autoestima dos pobres e seu potencial humano. Encontramos às vezes mulheres com 4 ou 5 filhos, analfabetas, que se sentem uma nulidade. Quando a Pastoral as tira da privação, as alfabetiza e lhes dá esperança, elas conseguem começar uma vida nova para si mesmas e para seus filhos.
–Quais são os objetivos nos próximos anos?
–Zilda Arns Neumann: Estamos concentrando muitos recursos para instruir a população sobre estes temas: nutrição, saúde, cidadania e educação para a paz. Temos organizado debates sobre estes problemas em todas as comunidades, de modo que cada pessoa que seguimos encontre um caminho de paz para a própria família. A Pastoral é consciente de que os problemas das pessoas nascem em um contexto hostil. Onde há analfabetismo, pobreza, falta de oportunidades, é mais provável que haja delinquência e tráfico de drogas. Por isso, a Pastoral centra-se nas crianças menores de seis anos e nas mães gestantes, para que se libertem deste contexto hostil e tanto a criança nascida como a por nascer possam desenvolver o máximo de suas capacidades. Temos 100 espaços comunitários, nos quais as crianças permanecem algumas horas, acompanhadas pelos pais, para que seus familiares aprendam o valor do desenvolvimento infantil. Deste modo, também as mães se socializam e melhoram sua saúde mental. Nos próximos anos, serão criados outros 200 destes espaços, todos em áreas de extrema pobreza.
–Em todo este trabalho social, como se insere a educação para a paz?
–Zilda Arns Neumann: A campanha “A paz começa em casa” foi lançada em 1999 e se dirige a prevenir a violência contra as crianças no ambiente doméstico. Ensinamos as famílias, por meio de encontros mensais, a assumir posturas que ajudam a melhorar as relações familiares e a construir uma cultura da paz. Em toda esta pedagogia, está presente a mensagem cristã da corresponsabilidade. Não esperar apenas a ajuda dos demais, mas ver o que podemos fazer nós mesmos.
Um comentário:
Olá, Lucas!
Eu sou da Comunidade Hesed de São Carlos! Mto bom o seu blog, possui mtas coisas boas e interessantes!
Deus te abençoe!
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