sexta-feira, 1 de julho de 2011

A castidade e os falsos argumentos da "pornografia médica"


"Deixem que a mocidade se divirta" diz-se por aí comumente; "a própria saúde assim o exige". O demônio não se poderia expressar melhor. Isso não é desculpar, é legitimar; é tornar necessária a devassidão, é proclamá-la indispensável para quem quiser gozar boa saúde.

O celibato, no entender desses libertinos, é uma instituição contra a natureza, que leva a monstruosas aberrações. Alguns médicos, obcecados pelo anti-clericalismo, fizeram-se cúmplices dessa teoria difamatória, alegando que a própria higiene condena o celibato.

Afirmações dessas, principalmente quando se pretende falar em nome da ciência, são altamente perniciosas para a moral pública. Nunca se fará demais, para defender a mocidade honesta, contra a influência desses princípios deletérios e corruptores e prepará-la para resistir às sugestões do meio imoral em que vive. Em 1902, o Boletim da Sociedade de Moralidade Pública reproduzia, sobre o assunto, uma conferência de L. Comte, refutando estes sofismas da perversidade moderna, com o testemunho das mais altas autoridades científicas.

Aqui vão as palavras de James Paget, uma das glórias ela medicina:

"A castidade, tão pouco prejudica a alma como ao corpo, ela é altamente recomendável. Entre os numerosos neuropatas e hipocondríacos que me vieram consultar, a respeito das relações imorais, nunca lhes ouvi dizer que tivessem melhorado com essas relações ilícitas".

O Dr. Perier não é menos categórico:

"Há uma opinião, diz ele, singularmente falsa e que importa muito combater, porque ascendia a mocidade, e até os pais chegam a se tornar cúmplices da devassidão dos rapazes: é a opinião de perigos imaginários, provenientes da continência absoluta. A continência e a virgindade são a salvaguarda física, moral e intelectual da mocidade; é preciso, portanto, tratar de conserva-lh'a, para reconduzi-la aos antigos e austeros costumes gauleses, de que fala Montaigne."

O fisiologista Kraft e os doutores Lionel Beale, Acton, Mantegazza, Good exprimem-se com singular energia, no mesmo sentido. Ouçamos o que diz o Dr. Surbled:

"O celibato, como necessário que é não pode ser impossível nem perigoso. Todos conhecem as misérias da incontinência; as que se pretendem atribuir à castidade perfeita, são supostas e imaginárias. A prova aí está: enquanto se escrevem obras monumentais e sem número, para descrever os desastrosos resultados da incontinência, os inconvenientes da castidade esperam ainda a história e descrição. A esse respeito, há apenas vagos argumentos, que se insinuam torpemente nas conversações, mas que não dariam matéria para um tratado qualquer e não suportam a luz da publicidade."

Vale a pena deixar consignada aqui a opinião da faculdade de medicina de Cristiania:

"A Faculdade de Medicina da Universidade de Cristiania tem a honra de declarar o seguinte: a afirmação de diversas pessoas, reproduzida nos jornais e assembléias públicas, de que uma vida pura e moral seria nociva à saúde, não tem fundamento algum, segundo as experiências unanimemente provadas. Nunca descobrimos qualquer prejuízo, proveniente de uma vida absolutamente pura e moral."

Assinada: J. Nicolayson, E. Winge, Jockmann, J. Heiberg, J. Ijort, T. Wann, Müller, E. Schönberg, professores de medicina da Universidade de Cristiania.

Good em seu tratado: Higiene e Moral, escreve:

"Ide consultar os professores mais eminentes de todas as Universidades da Europa e, se me trouxerdes uma única declaração, com a assinatura de algum nome respeitável, uma única citação, de um livro de autoridade, sob o ponto de vista médico, no qual se estude ou descreva uma enfermidade qualquer, proveniente da continência, ou uma afirmação demonstrada, a respeito de algum fato preciso e bem constatado de que a continência pode, quando menos, ser causa agravante de alguma moléstia, queimarei, no mesmo instante, estas páginas e me condenarei ao silêncio, para o resto dos meus dias. E, se tomo a precaução de falar em livro sério e em médicos dignos desse nome, é porque, infelizmente, existe uma completa literatura que se diz médica, cujos autores, abusando da curiosidade malsã de muita gente que assim é levada a esquadrinhar um ponto tão delicado da medicina, dão-se ares de desvendar mistérios que só existem na imaginação deles, ou valem-se de aforismos, em conformidade com os preconceitos populares a que nos referimos astúcias indignas, para lisonjear tendências secretas de seus leitores e aumentar a tiragem de seus livros. É o que se pudera chamar a pornografia médica; mas, seus autores são indignos do título que se arrogam, de servidores da ciência."

Na conferência a que nos referimos acima, L. Comte dá os seguintes conselhos à mocidade:

"Guardai puro o corpo e a alma; abstendo-vos de tudo quanto possa enfraquecer a resistência às tentações; fugi dos divertimentos preferidos da maior parte dos rapazes; fora com os jornais e romances que possam enervar os sentidos; submetei a inteligência a uma severa ginástica; não vos demoreis em conversações livres; formai um ideal mais elevado, pensando naquela que talvez: não conheçais ainda, porém, que será mais tarde vossa esposa; entrincheirai-vos nesse amor, como em uma fortaleza de marfim, que não deixa penetrar as manchas da imoralidade. Proponde-vos um ideal, mas não um ideal egoísta e sim desinteressado, que vos acompanha nas lidas quotidianas e consagrai-lhe todo o vosso afeto, todas as vossas energias, todos os tesouros de um coração puro."

Os jovens que puserem em prática estes conselhos, serão maridos exemplares; mas, é preciso que a donzela escolhida para esposa, mais tarde, tenha as qualidades que se requerem em uma mulher boa, ativa, piedosa, capaz de dirigir por si mesma um lar, em suas múltiplas e variadas exigências. Se, hoje em dia, jovens honestos e virtuosos, não se atrevem a arcar com os riscos do matrimônio, é porque não encontram ou temem não encontrar aquela que o coração lhes pede e o lar exige.

Um jornal norte-americano prometera um prêmio aquele de seus assinantes, que melhor respondesse a esta pergunta:

Que faremos de nossas filhas?

Aí vai a resposta premiada, que muitas mães poderão meditar com proveito:

Primeiramente faremos delas boas cristãs e depois, dar-lhes-emos uma boa instrução elementar. Ensine-se-lhes a preparar convenientemente um jantar, a cerzir meias, a pregar botões, a fazer uma camisa e a confeccionar os próprios vestidos. Saibam elas fazer pão e lembrem-se de que, uma cozinha bem dirigida, poupa muitas despesas de farmácia. Ensine-se-lhes que um mil réis tem dez tostões e que, para poupar, é preciso gastar menos e que a miséria é fatal, quando os gastos são maiores do que as rendas; que um vestido de algodão pago, é melhor que um de seda que se fica devendo.

E' preciso que aprendam, desde cedo, a fazer compras e a dar contas do que gastaram. Repita-se-lhes que vale muito mais um operário à mesa de trabalho e em mangas de camisa, ainda que sem um vintém no bolso, do que meia dúzia de imbecis e vadios.

Ensinai-lhes a cultivar as flores e a ver a Deus em todas as criaturas. Feito isto, proporcionai-lhes algumas lições de piano e pintura, se as vossas condições o permitirem, advertindo, porém, que estas artes ocupam lugar secundário e são de pouco proveito no lar. Ensinai-lhes a desprezar as vãs aparências e acostumai-as a guardarem a palavra empenhada e os bons propósitos; que o sim delas seja sim e o não seja não. Quando chegar o tempo de casá-las, inculcai-lhes bem que a felicidade no casamento não depende da fortuna que lhes há de trazer o marido, nem da posição que ele ocupar na sociedade, mas do caráter, dos dotes e virtudes da alma. Com esses princípios bem ensinados e aprendidos, ficai certos de que vossas filhas serão felizes, no caminho que escolherem; quanto ao mais, deixemo-lo a Deus.

E, se depois de tudo isso, um rapaz achar que a vossa filha não corresponde às suas aspirações, não se vos dê com isso; é a melhor prova de que esse rapaz é destituído de bom senso e não merece a confiança de uma moça bem educada. Melhor é ficar solteira, do que fazer a desgraça própria e alheia.

Mas, pelo amor de Deus, procurai que as vossas filhas possuam as virtudes e conhecimentos necessários à vida e que sejam capazes de inspirar a um rapaz honesto e virtuoso, atrativos pelo casamento. Há tantas que lhes metem medo!

(Quando eu for moça por J. Nysten, Centro da Boa Imprensa - com imprimatur, 1925)

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