Chega às livrarias italianas o romance “Intriga no Concílio Vaticano II”
Por Antonio Gaspari
ROMA, terça-feira, 27 de abril de 2010 (ZENIT.org). – “Paulo VI pôs-se a ler a carta mais uma vez, lágrimas de dor e desconcerto lhe rolavam pelo rosto: ‘Me traíram! Me traíram! Oh, meu Deus, ajudai-me! A fumaça de Satanás infiltrou-se em Vossa Igreja!”.
Com as palavras daquela noite que entraria para a história como “a noite obscura de Paulo VI”, nasce e se desenvolve o último romance de Rosa Alberoni, “Intrigo al Concilio Vaticano II” (“Intriga no Concílio Vaticano II”, editora Fede & Cultura, http://fedecultura.
Entre heresias dissimuladas, encontros secretos, projetos ameaçadores, sofismas e trapaças, Rosa Alberoni reconta num estilo admirável o complô de uma minoria organizada que tinha como objetivo comprometer o primado de Pedro, rejeitar a Virgem Maria como Mãe de Cristo, negar a existência dos Santos e, ainda pior, a existência do diabo, conduzindo assim a Igreja Católica a posições protestantes.
Mas justo quando a batalha parecia estar perdida, de algum modo misterioso e providencial o conluio foi descoberto, e o Pontífice, apoiado por seus colaboradores mais próximos e fiéis, pôde evitar o enfraquecimento do primado de Pedro.
Rosa Alberoni vive em Milão. É escritora, professora universitária de Sociologia Geral e jornalista. Colaborou com diversos jornais, o último dos quais foi o “Corriere della Sera”, e tem escrito para o “Sette” e o “Corriere Magazine”. É também autora de numerosos ensaios e romances – seu romance mais recente é “La prigioniera dell’Abbazia”, e seus últimos ensaios foram “La cacciata di Cristo” e “Il Dio di Michelangelo e la barba di Darwin”.
Para saber mais sobre seu último livro, ZENIT entrevistou Rosa Alberoni.
- O que a levou a escrever um romance sobre o Concílio Vaticano II?
- Rosa Alberoni: Foi um evento inesperado: vim a saber da ocorrência de um complô contra o Papa durante o Concílio Vaticano II. Fiquei chocada e desconcertada com tal revelação. Com isso, minha mente pôs-se a trabalhar. Levantei vários questionamentos, busquei documentos e fontes várias na tentativa de compreender o que realmente teria ocorrido e encontrar respostas às tantas perguntas, que, na medida em que me informava, eram cada vez mais numerosas.
Foi então que decidi transportar uma personagem, a investigadora Rachele de meu último livro “La prigioniera dell’Abbazia”, para o contexto do Concílio. E Rachele, enquanto investiga as intrigas do Concílio, acaba também por vasculhar suas próprias memórias, e se dá conta de ter tido alguns maus mestres, semeadores de dúvidas, os incitadores da destruição sutil mas sistemática dos valores fundamentais da civilização cristã, e portanto não apenas da religião católica. Para ajudar Rachele surge outro personagem, o padre Robert, que se tornou eremita justamente por ter participado ativamente do Concílio, tendo vivido todos os episódios e testemunhado as táticas adotadas pelos conspiradores.
- Certo, o Concílio não teve o desfecho que se esperava, mas poucos imaginavam que pudesse ter havido uma conspiração. O que é contado no romance?
- Rosa Alberoni: Que não teve o desfecho esperado por João XXIII e por Paulo VI viemos a saber apenas recentemente. Isto é, depois, sempre depois, que os danos se tornam evidentes, nos ensina a história. Todavia, é importante compreender os erros cometidos, e remediá-los. Para recuperar, para recompor valores destruídos, estou convencida de que será necessário um trauma.
Isto por que tanto os seres humanos como os povos são capazes de mudar apenas por meio de experiências traumáticas - ou por meio da intervenção da Divina Providência. Se houvesse um renascimento, um despertar, seria saudável não apenas para os crentes, mas também para os ateus ou aqueles em dúvida. Os ateus, ao contrário, estão hoje convencidos de que é chegado o momento de desferir o golpe de misericórdia contra nossa civilização; os que estão em dúvida estão desorientados, não sabem como se posicionar e aguardam que outros ajam.
O que conto no romance deixo para os leitores descobrirem – é um thriller, e seria um crime revelar qualquer detalhe.
- Estudou a fundo a história do Concílio Vaticano II?
- Rosa Alberoni: Estudei apenas o necessário para dar asas à minha imaginação. Não sou uma especialista no assunto, uma vaticanista, nem pretendo me tornar uma. Sou apenas uma contadora de histórias. Os nomes são fantásticos porque um romance é sempre filho da fantasia, e os eventos narrados são fictícios, ainda que não muito distantes da realidade. Meu romance tenta captar a atmosfera de conspiração e de revolta contra o Papa daquele tempo.
- Qual é a ideia central?
- Rosa Alberoni: A de que os homens são frágeis e falíveis. E que a sede de poder pode invadir também os prelados. Isto pode a princípio nos desconcertar; mas sabemos que também eles fazem parte da família humana, não são semi-deuses. O importante é que os Papas que se sucedem no trono sejam capazes de suportar a fadiga física e o calvário psicológico que lhes é imposto. Os crentes devem apoiar o Papa; e, por vezes, pode ser necessário que se transformem em verdadeiros soldados adaptados às circunstâncias, sem medo, porque a guiar-lhes e dar-lhes força está Cristo. Em vista do ataque moderno contra a Igreja Católica, também os ateus sábios e com visão de futuro devem unir-se a eles, para o bem de todos. Não podem haver meros espectadores, seria uma grave miopia.
- A protagonista do romance exprime diversas reflexões sobre a crise de uma geração, aquela cresceu durante os anos 60. Qual é a mensagem que o romance pretende difundir a esse respeito?
- Rosa Alberoni: Uma mensagem de esperança e otimismo, baseada na razão. Se cada um de nós refletir e compreender que não é necessário aceitar tacitamente as mensagens dos destruidores, mas que é sempre possível recorrer ao bom senso de nossos avós, desperta-se. E ao despertar, percebe-se que aquilo que parecia óbvio e libertador é, ao contrário, um erro, uma ilusão que nos induz a realizar e tolerar ações desastrosas para todos. Algumas pessoas da geração dos 60 logo tomaram consciência do erro e do veneno infiltrado na ideologia dos filhos das flores e tentaram denunciá-lo, mas isso não lhes foi permitido.
A mídia tem sido ocupada de maneira científica pelos destruidores de valores. Aqueles que puderam se libertar da lavagem cerebral ideológica, que se desintoxicaram da manipulação maciça, querem alertar a geração atual desta constante manipulação a que estão submetidos.
- Alguns analistas sustentam que os ataques ao Pontífice e os problemas de pedofilia foram gerados no âmbito dessa ideologia dos anos 60, que, de acordo com seu romance, estava presente na mentalidade dos conspiradores do Concílio. Como vê as recentes críticas a Bento XVI?
- Rosa Alberoni: Estes analistas têm razão. E a oportunidade dada à militância ateísta de hoje para atacá-lo foi construída com esmero. Destruir o trono de Pedro é uma ideia que nasceu com Lutero, retomada mais tarde pelos jacobinos, depois pelos comunistas, pelos nazistas e, hoje, pelo movimento cientificista-
Descobri que alguns prelados se permitiram, algumas vezes, seduzir pela ideologia dominante, com a convicção de que uma vez libertos da influência do Papa, poderiam rapidamente se adaptar às circunstâncias partilhar do poder de seus líderes. O Papa, que por sua vez se mantém fiel à sua tarefa de seguir os Textos Sacros, passa a ser um obstáculo para os planos destes. Assim, os prelados progressistas, em especial aqueles ligados à a teologia da libertação, com frequência se irritam quando o vigário de Cristo adverte para que não sejam violados os valores fundamentais da civilização cristã.
O sucessor de Pedro, na verdade, apenas cumpre sua tarefa quando lembra que tais valores não são negociáveis e repreende aqueles que os pisoteiam. Se um Papa, como está fazendo Bento XVI, inicia uma limpeza entre o clero rebelde, não é surpresa que estes reajam com virulência. Assim, os ataques perpetrados contra Bento XVI não constituem surpresa para mim. Minha preocupação é informar as pessoas.
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