O Papa Bento XVI está completando quatro anos de Pontificado; ele é o Representante de Nosso Senhor Jesus Cristo na Terra, o Vigário de Cristo; o Pedro de nossos dias, a quem o Senhor confia o cuidado do seu Rebanho. “Apascenta as minhas ovelhas” (João 21, 17); “Confirma os teus irmãos” (Lucas 22, 32). O Papa, como disse Santa Catarina de Sena, é o “Doce Cristo na Terra”. Ele é a “Pedra” (Kephas) de unidade da Igreja e guardião da doutrina; Pai espiritual de todo católico.
Levar adiante o trabalho de João Paulo II não é tarefa fácil, mas o Papa Bento XVI continua isso muito bem; realiza as importantes viagens pastorais a todo o mundo - apesar de sua idade avançada - o que por si só já é um desafio. Continua a luta em defesa da moral católica no combate ao aborto, à manipulação de embriões, à eutanásia, ao sexo livre e fora do casamento, `a prática homossexual e ao casamento de gays, uso da camisinha, etc. Isto tudo tem sido um grande desafio para o Papa e motivo de muitas críticas.
Além disso, o Papa tem combatido o que chama de “ditadura do relativismo”, segundo o qual não existe uma verdade absoluta e tudo se reduz `a vontade de cada um; dentro da Igreja combate o relativismo moral e doutrinário por parte até de pessoas do clero. Seu principal desafio, penso que seja a luta contra o ateísmo e o laicismo anti-católico que cresce na Europa e especialmente nas universidades e na mídia, e que parece querer banir a Igreja católica da sociedade e fazer calar a sua voz.
Alguns pensavam que o Papa fosse um reacionário ultra conservador, mas ele não precisou reverter esse quadro, porque simplesmente ela nunca foi frio e nem ultra-conservador; essa foi uma visão errada que a mídia passou dele para o público. O então cardeal Ratzinger sempre foi acolhedor, humilde e bondoso; no entanto, sua missão de Prefeito da Congregação da Fé; a mais importante da Santa Sé, guardião da “sã doutrina” (Tito 1,9), exigia dele um trabalho profundo, recolhido, e pronto para corrigir os erros e as heresias que ameaçavam a pureza da fé. Ele foi obrigado a chamar ao Vaticano muitos teólogos que caminhavam em desacordo com a doutrina da Igreja; era sua missão; isso criou uma falsa visão de sua pessoa. Durante 24 anos ele foi o homem de confiança de João Paulo II nesta missão impar; isso gerou, erradamente, uma imagem distorcida do Papa. Foi um preço que ele teve de pagar para servir a Igreja com fidelidade e coragem.
Alguns quiserem denegrir a sua imagem dizendo que ele foi do exército de Hitler, como se tivesse cooperado com a loucura desse ditador. Esse foi outro ponto muito mal interpretado pela mídia e especialmente por quem desejava denegrir a imagem do Papa, como se pudesse caber na cabeça de alguém que um cardeal da Igreja, hoje Papa, pudesse ter sido colaborador de um dos piores carrascos que a humanidade já viu. Somente pessoas com muita má fé ou por ignorância poderiam pensar tal desatino.
No livro “O Sal da Terra”, o então Cardeal Ratzinger deu um longa entrevista ao jornalista Peter Seewald, onde conta toda a sua vida e seu maravilhoso trabalho de muitos anos pela Igreja. Entre outras coisas, Peter pergunta ao Papa: “O senhor pertenceu `a Juventude Hitlerista?; ao que ele respondeu:
“De início não pertencíamos. Contudo, com a introdução, em 1941, da juventude Hitlerista obrigatória, meu irmão tornou-se membro de acordo com essa norma. Eu ainda era muito novo [14 anos ], mas mais tarde fui inscrito na juventude Hitlerista quando estava no seminário. Assim que saí do seminário, nunca mais fui lá. E isso era difícil porque a redução da mensalidade, de que eu realmente precisava, estava ligado à comprovação de frequência à juventude Hitlerista. Mas, graças a Deus, tive um professor de Matemática muito compreensivo.
Ele próprio era nazista, mas um homem consciencioso, que me disse “ Vai lá uma vez para resolvermos isso…” Quando viu que eu realmente não queria ir , disse: “Entendo, eu dou um jeito nisso”, e assim pude ficar de fora” (p. 44). Pouco depois, os dois irmãos Ratzinger seminaristas foram mobilizados compulsoriamente e enviados para diferentes postos militares. O futuro Papa fez serviço militar na guarnição antiaérea de Munique, mas nunca atuou como soldado beligerante. Ele e outros tinham permissão de assistir às aulas no Colégio Maximiliano de Munique. Fora das horas de serviço, podiam fazer o que quisessem, e lá havia um grande grupo de católicos “engajados” que conseguiram organizar até aulas de religião, e de vez em quando podiam ir à igreja. (ver o livro ” A minha vida”, Ed. Paulinas, SP).
Mais tarde, em 20 de setembro de 1944, foi levado para um campo de trabalhos forçados em Burgenland. “Aquelas semanas de trabalho braçal ficaram-me na memória como uma recordação opressiva. Aprendemos a pegar e levar sobre o ombro a enxada com uma cerimoniosa disciplina militar; a limpeza da enxada, na qual não podia ficar a menor partícula de pó, era um dos elementos essenciais dessa pseudo-liturgia… Toda uma liturgia e o mundo que se construía em torno dela apresentavam-se como uma grande mentira” (citado no livro “Joseph Ratzinger, uma biografia”, de Pablo Blanco, Ed. Quadrante 2005, pp. 31 e ss.).
O Papa é conservador no sentido de conservar-se fiel ao Evangelho e ao Magistério da Igreja, e isso é correto; ele tem dito e ensinado as mesmas verdades que os Papas anteriores a ele ensinaram, nada a mais. Acontece que o mundo fica na ilusão de que a Igreja vá mudar a sua moral e a sua doutrina; mas ela não pode fazer isso, pois é um legado perene que Jesus deixou para a salvação da humanidade; e isso não pode ser mudado sob pena de se destruir o cristianismo e por em risco a salvação das pessoas.
Ele foi recentemente atacado na mídia e nas universidades por ter condenado o uso de preservativos; mas sempre a Igreja considerou o seu uso imoral e deprimente, uma vez que incentiva o sexo fora do casamento, e é um mau exemplo para os jovens. Ele nada disso de novo. O preservativo não impede 100% a contaminação pelo HIV, como estamos vendo pelo testemunho de muitos médicos e autoridades. Os paises da África que diminuíram o contágio do HIV o fizeram com a prática da abstinência sexual antes do casamento e a fidelidade conjugal, e não com o uso da camisinha; o Papa tem razão.
Sobre o casamento de gays, a Igreja sempre considerou a prática homossexual, não a tendência, uma grave desordem (cf. Catecismo §2357), algo contra a lei de Deus que criou o homem e a mulher para que o casal humano fosse a base da família e da sociedade. O casamento de gays cria uma família falsa, e isto prejudica a verdadeira, e tem sérias conseqüências.
O Papa tem viajado constantemente – apesar de sua idade, repito – e tem sido acolhido com entusiasmo como vimos na África, nos Estados Unidos, na Jornada Mundial da Juventude na Alemanha, no Brasil, etc.; isso mostra que ele continua a levar a Igreja e o Evangelho ao mundo e este o acolhe. Ele continua o mesmo trabalho de João Paulo II; dá ênfase ao ecumenismo, enaltece o Concilio Vaticano II como a “Primavera da Igreja”, vai às universidades levar a mensagem cristã, fala com a juventude, acolhe as famílias e conversa com os governantes do mundo todo. E já está de viagem marcada para Israel.
Este Papa foi eleito num dos Conclaves mais rápidos da história da Igreja, porque estava claro para os cardeais que ele era o Cardeal mais preparado para substituir João Paulo II, magno. E esses quatro anos mostraram o acerto dessa medida. Ele dá sequência ao trabalho de João Paulo com coragem, lucidez, e, de certa forma, com mais espontaneidade.
Não tem medo de dizer a verdade de Deus onde quer que deva pregar, com humildade e sabedoria. Se o mundo o critica é porque Jesus Cristo sempre foi e sempre será “sinal de contradição” (Lc 2, 34), e o Papa é o seu Representante na terra; então, não podemos esperar outra reação do mundo.
“A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam” (Jo 1, 4-5). Paulo VI já havia dito que o mundo vai mal porque quer dar soluções fáceis, rápidas, cômodas, e inócuas, para problemas difíceis. E a Igreja não aceita isso, porque não é irresponsável, por isso, será sempre atacada.
Prof. Felipe Aquino
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