segunda-feira, 27 de abril de 2009

A INSPIRAÇÃO BÍBLICA


I - A INSPIRAÇÃO

1. Definição

Entende-se por inspiração a influencia ativa de Deus sobre os autores dos Livros Sagrados, pela qual a verdade salvífica é anunciada e tornada perceptível ao homem.

2. Cânon, canônico, canonicidade
1. Cânon: termo grego kanon significa originariamente uma "vara de medir" e, mais tarde, num sentido derivado, uma "regra" ou "norma". Os Padres usaram a palavra "cânon" com o sentido de regra de fé. A idéia que finalmente prevaleceu foi a de uma determinada coleção de escritos que se constitui uma regra de fé. Por último, o cânon da Escrituras veio a significar aquilo que entendemos por ele hoje: a coleção de livros divinamente inspirados, recebidos pela Igreja e reconhecidos por ela como infalível regra de fé e prática, em virtude de sua origem divina.
Canônico é relativo a Cânon. É chamado canônico o escrito que figura no elenco dos escritos inspirados.
2. Canonicidade: significa que um livro inspirado, destinado à Igreja, foi recebido como tal por ela. Embora todos os livros canônicos sejam inspirados e nenhum livro inspirado exista fora do cânon, contudo, as noções de canonicidade e inspiração não são as mesmas.


3. O Fato da Inspiração
Toda a Tradição judaica fala que os livros sagrados são inspirados por Deus:
No AT, é sinal de fé acreditar que os livros sagrados são de origem divina.
No NT, Jesus fala da proveniência divina das Escrituras. Os Apóstolos nos transmitiram esta verdade, na qual acreditamos, pois é regra de fé para a Igreja.

4. Extensão da Inspiração
Toda a Bíblia é Palavra de Deus. Cada livro canônico é todo ele inspirado*. Não devemos confundir, porém, "Inspiração" com "Revelação".
Com efeito, são inspiradas todas as passagens de um livro canônico, sem distinçãom, quer se trate de fé ou não, pois o conteúdo não é objeto da inspiração, mas o autor humano. A Inspiração, portantom subsiste também quando o autor do livro erra em relação a argumentos científicos ou ostenta suas limitações humanas.
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*Com efeito, a Santa Mãe Igreja, segundo a fé apostólica, considera como santos e canônicos os livros inteiros do Antigo e do Novo Testamento com todas as suas partes, porque, escritos por inspiração do Espírito Santo (cf. Jo 20,31; 2 Tm 3,16; 2 Pd 1,19-21; 3,15-16), têm Deus por autor, e como tais foram confiados à própria Igreja" (DV 11)
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5. Efeito da Inspiração
Em matéria de moral e de fé, tais livros não podem enganar. São veículos de verdade salvífica ou inerrância. Todavia, não podemos atribuir a Deus cada palavra, cada enunciado. O autor humano conserva toda a sua liberdade de expressão, toda a sua mentalidade. Deus não dita ao autor humano (ou hagiógrafo) o que ele deve escrever, mas o inspira e lhe permite expressar, com os recursos literários e conhecimentos gerais que tem, aquilo que Ele inspira*.

6. Veracidade das Escrituras
A autoria divina das Escrituras garante que as verdades ensinadas e as realidades descritas na Bíblia apresentam, sem erro, o caminho certo para a salvação: "Os livros das Escrituras ensinam, firmemente, fielmente e sem erro, a verdade que Deus, para a nossa salvação, desejou ver confiadas às Sagradas Escrituras" (DV 11).

7. Cópias do original, traduções, comentários e citações do autor são inspirados?
Se o copista cometeu erros de cópia e traz um texto diferente do original, a passagem não é mais sujeita a inerrância.
Se o tradutor não é fiel ao original, o livro não é mais sujeito a inerrância.
Os comentários, as interpretações, estão sujeitos a erros. Só apresentam inerrância quando traduzem exatamente o pensamento do pensador inspirado.
Quando as citações não expressão o pensamento do autor inspirado não estão sujeitas a inerrância.

8. Algumas leis da Linguagem ligadas à verdade salvífica
O sentido da palavra é convencional. Existem palavras na Bíblia cujo sentido dado pelo autor é diferente do sentido que nós costumamos dar. Por isto, para interpretar autenticamente a Bíblia deve-se procurar o sentido exato que o autor bíblico deu aos termos.
Expressões idiomáticas existem em todas as línguas - também na Sagrada Escritura. Não se pode, portanto, dar a estas expressões o sentido literal, mas determinar o que realmente significam. Ex: "As narinas de Deus soltavam fumaça", "Deixa que os mortos enterrem os mortos..." etc.
Devemos colher na Bíblia o conceito paulino de Letra e Espírito (2 Cor. 3, 4s). Interpretar a Bíblia sem colocar Jesus ao centro de todo o AT é ficar unicamente na letra e "a letra mata". Interpretá-la colocando Jesus como centro de todas as Escrituras é penetrar no Espírito delas. Então, "o espírito vivifica".
O verdadeiro sentido da Escritura, a Veracidade Salvífica, muitas vezes, deve ser procurado no contexto, no conjunto total, e não isoladamente, em palavras ou expressões.
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* Deus escolheu e serviu-se de homens na posse das suas faculdades e capacidadesm, para que, agindo Ele neles e por eles, possuem por escrito, como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que Ele queria" (DV 11).
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