segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

POR QUE OS PADRES NÃO SE CASAM?


Por Marcos Paulo Teixeira

O celibato sacerdotal não é dogma de fé, ou seja, não é lei divina, mas sim disciplina da Igreja para os sacerdotes do rito romano ocidental. Por este motivo muitos protestantes tem aproveitado o analfabetismo bíblico do povo para afirmar que a Bíblia é contra o celibato dos padres. Mas por que dentre os doze apóstolos de Jesus nove eram celibatários? Aliás, o próprio Cristo também era celibatário.

Então, vamos analisar o que as passagens bíblicas dizem a respeito do celibato.

1) Mt 19,12 - "Pois há homens incapazes para o casamento porque assim nasceram do ventre da mãe; há outros que assim foram feitos pelos homens, e há aqueles que assim se fizeram por amor do reino dos céus. Quem puder entender, que entenda".

Não tradução da Bíblia Ave-Maria Lê-se: “Porque há eunucos que o são desde o ventre de suas mães, há eunucos tornados tias pelas mãos dos homens e há eunucos que a si mesmos se fizeram eunucos por amor do Reino dos Céus. Quem puder compreender, compreenda.”

Vejam as palavras do próprio Jesus. É um mistério não facilmente entendido pelas mentes desatentas, por isso Jesus afirma que nem todos podem compreender o motivo pelo qual alguns se fizeram eunucos por amor do reino dos Céus.

2) Mt 19,29 - "E todo aquele que deixar casa, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou campos por amor de meu nome, receberá cem vezes mais e possuirá a vida eterna." Aqui Jesus ainda é mais enfático ao dizer que aqueles que deixam a oportunidade de constituir uma família por amor as seu nome receberá cem vezes mais e possuirá a vida eterna, ou seja, o prêmio máximo que a bem-aventurança pode conceber a um ser humano.

3) 1 Cor 7, 7-8 - “Quisera que todos os homens fossem como eu; mas cada um tem de Deus a sua própria graça; este uma, aquele outra. Contudo, aos não-casados e às viúvas eu digo: é melhor para eles que permaneçam como eu." Aqui não São Paulo endossa o posicionamento de Cristo. Como todos sabem São Paulo era celibatário, e neste passagem Bíblica São Paulo deseja que todos os homens fossem como ele, ou seja, celibatário, mas como a humanidade precisa crescer e multiplicar-se, São Paulo reconhece que é necessário apenas para os ministros de Cristo manter-se celibatário.

4) 1 Cor 7,27 - "Estás ligado a mulher? Não procures a separação. Estás livre de mulher? Não procures mulher." Aqui São Paulo dá dois conselhos, uma para que quem estiver casado não se separar (diferentemente dos protestantes que aceitam a separação) e o outro manter-se casto.

5) 1 Cor 7, 32-35 - "Eu vos quereria livres de cuidados. O celibatário cuida das coisas do Senhor, de como agradar ao Senhor. O casado deverá cuidar das coisas do mundo, de como agradar à sua mulher, e assim está dividido. A mulher não casada e a virgem só se preocupam com as coisas do Senhor, com ser em corpo e em espírito. Porém a casada se preocupa com as coisas do mundo, como agradar ao marido. Isto vos digo para vossa conveniência, não para vos armar um laço, senão olhando ao que é melhor e ao que vos permite unir-vos mais ao Senhor, livres de impedimentos."

É claro para São Paulo que aquele que é celibatário cuida melhor das coisas de Deus. O texto é auto-explicativo.

6) 1 Tim 3,2 - "o epíscopo tem o dever de ser irrepreensível, marido de uma só mulher, sóbrio, prudente, modesto, hospitaleiro, capaz de ensinar".

Essa passagem em especial, os protestantes se apegam para tentar provar que o bispo (epíscopo) deve casar. Ora, São Paulo era celibatário e não poderia está obrigando Timótio a se casar. Aqui há uma recomendação para que Timótio tenha cuidado ao escolher novos Bispos, pois como naquela época a poligamia era comum, S. Paulo aconselha que se o candidato ao episcopado não puder se manter celibatário, como ele aconselhou nas passagens à Coríntios, que ele ao menos seja casado apenas uma vez. Ler versículos isolados tirando-os do seu contexto histórico, faz dos protestantes verdadeiros fundamentalistas.

7) Lc 18,28-30 – “Vê, nós abandonamos tudo e te seguimos”. Jesus respondeu: “Em verdade vos declaro, ninguém há que tenha abandonado, por amor do reino de Deus, sua casa, sua mulher, seus irmãos, seus pais, ou seus filhos, que não receba muito mais neste mundo, e no mundo vindouro a vida eterna”.

Vejamos mais uma vez São Paulo:

8) 1 Cor 7,1-7 - “Agora, a respeito das coisas que me escrevestes. Penso que seria bom ao homem não tocar mulher alguma. Todavia, considerando o perigo da incontinência, cada um tenha uma mulher, e cada mulher tenha seu marido. O marido cumpra o seu dever para com a sua esposa e da mesma forma também a esposa o cumpra para com o marido. A mulher não pode dispor de seu corpo: ele pertence ao seu marido. E da mesma forma o marido não pode dispor do seu corpo: ele pertence à sua esposa. Não vos recuseis um ao outro, a não ser de comum acordo, por algum tempo, para vos aplicardes a oração; e depois retornai novamente um para o outro, para que não vos tente satanás por vossa incontinência. Isto digo como concessão, não como ordem. Pois quereria que todos fossem como eu; mas cada um tem de Deus um dom particular, uns este, outros aquele”.

Há quem diga que manter-se casto está além das forças humanas. Eis o que diz São Paulo:

9) 1 Cor 10,13 – “Não vos sobreveio tentação alguma que ultrapasse as forças humanas. Deus é fiel: não permitirá que sejais tentados além das vossas forças, mas com a tentação ele vos dará os meios de suportá-la e sairdes dela.”

O celibato tem uma tríplice dimensão, que poucos podem compreender:

a) A dimensão Cristológica, onde o vocacionado querem imitar em tudo ao seu seu Senhor, que nunca casou;

b) A dimensão Esclesiológica, pois há eunucos que se faz assim por amor ao Reino do Céus (cf. Mt 19,12);

c) A dimensão Escatológica: “Eu vi ainda: o Cordeiro estava de pé no monte Sião, e perto dele cento e quarenta e quatro mil pessoas que traziam escritos na fronte o nome dele e o nome de seu Pai. Ouvia, entretanto, um coro celeste semelhante ao ruído de muitas águas e ao ribombar de potente trovão. Esse coro que eu ouvia era ainda semelhante a músicos tocando as suas cítaras. Cantavam como que um cântico novo diante do trono, diante dos quatro Animais e dos Anciâos. Ninguém aprender este cântico, a não ser aqueles cento e quarenta e quatro mil que foram resgatados da terra. Estes são os que não se contaminaram com mulheres, pois são virgens. São eles que acompanham o Cordeiro por onde quer que vá; foram resgatados dentre os homens, como primícias oferecidas a Deus e ao Cordeiro. Em sua boca não se achou mentira, pois são irrepreensíveis.” (Apoc 14 , 1-8)

Muito profunda essa visão de são João. Vejam que os que acompanhavam o cordeiro (Cristo) eram os celibatários. Ora, então como um protestante pode contestar tal doutrina?

Há ainda aqueles que tentam argumentar com a passagem 1 Tim 4, 1ss: “O Espírito diz expressamente que, nos tempos vindouros, alguns hão de apostatar da fé, dando ouvidos a espíritos embusteiros e a doutrinas diabólicas, de hipocrisia e impostores que, marcados na própria consciência com o ferrete da infâmia, proíbem o casamento, assim como uso de alimentos que Deus criou...”

Usando essa passagem bíblica, os protestantes dizem que a Igreja católica é apóstata por incentivar o celibato. Ora, o mesmo que São Paulo que escreveu isso a Timótio exorta o celibato em inúmeras outras passagens bíblicas. Será que São Paulo é o apóstata ou será que há outra interpretação fundamentalista em jogo?

A Igreja Católica nunca proibiu o casamento, ao contrário dos protestantes, ela é a única instituição na qual o casamento é considerado sacramento e, portanto, sagrado. A livre adesão ao celibato é algo que foi proferido pela própria boca de Jesus (Mt 19,12), logo a Igreja Católica cumpre fielmente os desígnios de Cristo.

Em 1Timóteo 4,3, longe de impugnar a disciplina católica do celibato sacerdotal, S. Paulo condena aquelas heresias (como as dos maniqueus e albigenses) que afirmavam que o casamento era mal porque o corpo era mal. Assim, Paulo não está advertindo Timóteo contra a disciplina católica, até porque ele mesmo a seguia.

São Paulo aconselha a glorificar a Deus nos corpos. “ Porque fostes comprados por um grande preço. Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo.” (I Cor 6,20)

Com o tempo, a Igreja Católica foi percebendo que esta condição mais próxima de Cristo era também a mais eficaz para o trabalho de evangelização. De fato, um pai de família não tem o mesmo tempo para cuidar da messe que um solteiro. Sem falar em outras questões, como a necessidade de se deslocar de uma região para outra.

Neste sentido, é que em 303 d.C. o Concílio de Elvira (Espanha) recomenda o celibato como norma para os religiosos. Na verdade, o Concílio apenas foi de encontro a uma realidade que já se fazia presente na Igreja.

A Igreja encontrou na doutrina do celibato muitos valores espirituais, por isso a conserva com tanto amor. Lembro que os padres católicos romanos de outros ritos (maronita, melquita, ucraniano, copta, armeno, etc) podem casar antes da ordenação, como os nossos diáconos o fazem. Mas o interessante que as vocações ocidentais, onde o celibato é pré-requisito para o sacerdócio, são muito mais numerosas.

Um mundo tão pan-sexualizado e hedonista quanto o nosso não irá nunca compreender o sentido do celibato, da mesma forma que não entendem a indissolubilidade do matrimônio.

Em muitos sites protestantes dizem que o celibato foi invenção da Igreja do Século IV e que não havia precedentes. Pura ignorância! Será que os apóstolos e os pais da Igreja do século I ao IV não são precedentes? A Bíblia, como foi exposto aqui neste artigo, e os livros históricos da Igreja Primitiva mostram a adesão dos santos apóstolos e dos santos da Igreja Primitiva pelo celibato.

Digamos que o celibato não fosse uma doutrina bíblica e que Jesus e nenhum dos apóstolos tenham falado em tal situação, ainda assim, a Igreja teria o poder de criar tal doutrina, pois o próprio Jesus garantiu a Pedro: “Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.” (Mt 16,19).

Termino esse texto com as sábias palavras de D. Henrique Soares (Bispo auxiliar de Aracajú) ao ser questionado se tem algum sentido manter o celibato dos padres diante de alguns padres infiéis: “Mas, podem perguntar alguns: tem sentido manter a disciplina do celibato hoje, quando tantos padres não lhe são fiéis? Poderíamos também perguntar: tem sentido falar-e em fidelidade conjugal, se tantos esposos são infiéis? Tem sentido falar-se em honestidade na política se tantos políticos são desonestos? Como se pode ver, a pergunta é superficial e não tem muita importância para a Igreja...”

Em Cristo e em Maria Imaculada,

Marcos Paulo

http://marcospauloteixeira.wordpress.com

Um comentário:

Rogério de Paula disse...

Muito bom este texto Lucas. Será que eu poderia colocá-lo no meu blog: www.theophoros.blogspot.com ?

Citando a fonte logicamente!

Muito obrigado, fique na paz de Jesus!

Rogério de Paula