quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Lá vem o Menino Jesus; adeus, Papai Noel


O Natal já está às portas. Nas várias regiões se percebem tônicas diferentes, mas em toda parte Natal é Natal, encontro dos parentes e amigos. E dentro deste contexto, as várias tradições natalinas têm sua razão de ser. Até o Papai Noel tem razão de ser. Na realidade o Papai Noel já está bem velhinho: ele deve ter mais de mil anos de existência. Só que no começo era uma hestória muito bonita. Ei-la: havia um bispo chamado Nicolau. Era muito amigo dos pobres e das crianças. Sobretudo no período de Natal o seu carinho crescia ainda mais. Vestido com toda a indumentária própria do bispo ( mitra e báculo), ele saía pelas ruas das vilas e cidades, levando presentes para pobres e crianças, e desejando a todos as bênçãos do Menino Deus. Esta é a raiz cristã da figura do Papai Noel.

Assim, lá em Santa Catarina, há algumas décadas atrás, o Papai Noel chegava bem antes do dia de Natal. Mais exatamente, chegava no dia 6 de dezembro, festa de São Nicolau. E chegava exatamente com este nome: São Nicolau. Vestido como bispo, ele vinha para pedir às crianças que rezassem mais, que fossem mais boazinhas, que estudassem melhor. Assegurava que se houvesse mais empenho, então, por ocasião do nascimento de Cristo, na noite de 24 de dezembro, ele ira trazer muitos presentes. As crianças até podiam se dar ao luxo de fazer seus pedidos, falados ou por escrito.Se fossem razoáveis, eram atendidos.

Em outros termos: o Papai Noel é uma figura que pode ser aproveitada, mas desde que não tire o lugar do Menino Jesus. A substituição do Menino Jesus e do mistério do natal pela figura comercial do Papai Noel aconteceu por influxo norteamericano. Na Europa em geral, mas na Alemanha em particular, o Natal ainda continua tendo uma tônica bastante cristã, apesar de todo o processo de secularização. Na Alemanha, em famílias tradicionalmente cristãs, a véspera do Natal ainda é considerada “noite santa”. Inclusive, não manifestar-se aos amigos por ocasião de Natal significa uma ruptura: quem não se manifesta no Natal não é mais amigo....

Com todas estas considerações, não pretendo negar que até mesmo o Papai Noel e outros símbolos menos tradicionais possam ter sentido. Assim, Papai Noel pode ser uma espécie de oportunidade para educar as crianças no respeito às pessoas de idade. Depende um pouco como é apresentada a figura do Papai Noel: por vezes é uma figura ridícula. Então não serve para nada. De qualquer forma, com ou sem Papai Noel, não podemos perder de vista o sentido profundo do Natal: por incrível que isto possa parecer, Deus mesmo veio morar entre nós. E isto aconteceu num lugar concreto, num tempo determinado. E isto não ocorreu há milhões de anos atrás: há apenas 2 mil anos, o que em termos de história represente pouco tempo.

Maria concebeu de fato; o embrião teve uma evolução normal, até tornar-se feto; numa noite nasceu uma criança; esta criança chorava, mamava, dormia... aprendeu a falar, a caminhar... Depois se tornou adolescente... aborrecente também... Teve amigos e amigas; teve parentes... a quem visitava, na companhia de seus pais... Depois se tornou adulto... Iniciou um tempo de pregação e de milagres.... foi condenado... Ressuscitou... Um dia voltará gloriosamente para colocar um belo fecho na história humana. Coisa incrível: Tudo foi feito por Ele e Nele tudo subsiste. Ele está na origem de tudo o que foi criado e nada foi criado sem Ele... Coisa incrível: este Deus se fez nosso irmão; partilhou de nossas vidas; trabalhou com mãos humanas... amou com coração humano... Não há dúvida: a história do Natal é uma história tão extraordinária que a gente até custa a acreditar.

Para penetrar um pouco no mistério do Natal, convém que nos coloquemos diante de um presépio. Sabidamente, o presépio tem sua origem ligada à São Francisco. Francisco de Assis mergulhou profundamente no mistério da Encarnação, ou seja, de um Deus que se fez ser humano, em tudo, menos no pecado. Levado por este mistério, São Francisco teve uma inspiração: numa noite de Natal, convidou o povo dos arredores de Assis, para, com tochas acesas nas mãos, subirem uma montanha de um local chamado Greccio... Todos caminharam até uma gruta. São Francisco cuidou que não faltassem alguns animais, como burrinho, boi, ovelha... cachorrinhos... Assim, em meio à mata, no coração de uma gruta, cercado de irmãos seus na fé, São Francisco fez todos reviverem o mistério do Natal naquela noite.

O povo ficou profundamente impressionado... E a partir daí... nós franciscanos sempre fomos propagadores do presépio. É que o presépio, nos faz entender que, em torno do Menino, e só em torno dele, é que pode ser construído um mundo mais harmônico. De fato, ali no presépio vemos pessoas simples, como Maria, José e os Pastores. Vemos também pessoas mais importantes, como os chamados “ reis magos”, ou “ sábios do Oriente”. Vemos anjos, representando a transcendência; vemos plantas e animais... É toda a Criação que encontra novo sentido junto ao presépio.

Gostaria de pedir-lhes que ao lerem esta mensagem, não se esqueçam de deixar de lado o Papai Noel, para acolher o Menino Jesus. Com isto, abrimos nosso coração para um grande abraço: a todas as criaturas, ditas racionais e irracionais, porque as abraçamos no Amor de Deus que se manifestou em Jesus Cristo. Que por ocasião das festas natalinas e de fim de ano, este mesmo Amor de Deus nos una ainda mais, no cumprimento de nossa missão, com mais força e alegria.


Dr. Frei Antônio Moser
Assessor da CNBB para assuntos de Bioética


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