Cale-se para seu bem, recomenda o monge beneditino Anselmo Grün, autor de "O Poder do Silêncio" (Vozes). São 11 capítulos em que o monge prega a necessidade de se fechar a boca como caminho para a paz de espírito. Não só isso: quem economiza palavras pode evitar aborrecimentos desnecessários causados geralmente pela mania de falar pelos cotovelos. Assim, observando mais do que colocando o bedelho em tudo, dá para diminuir ruídos de comunicação.
A meditação ajuda a acalmar nossos diabinhos, e o monge conta como sossegar uma mente desgovernada. Ele defende que o silêncio é o ambiente ideal para brecar as angústias provocadas pela velocidade e pelo excesso de informações, de estímulos e demandas do cotidiano. É por isso que muitos se isolam em florestas, desertos e praias para conseguir um pouco de tranquilidade e organizar os pensamentos e as emoções.
O monge explica as diferentes técnicas de meditação, dependendo do credo (católicos, budistas e judeus, por exemplo). Em comum, há o forte desejo de dar um significado mais elevado para a vida, permitindo a convivência sadia com os outros e o desenvolvimento de nossas potencialidades.
São rituais que podem ser adaptados pelo seu ritmo de atividades, aquele momento em que, sem palavras, sua mente reavaliará os últimos capítulos de sua vida, captando aquilo que escapou ao seu primeiro crivo. Com uma linguagem acessível, o livro do monge Grün pinça ensinamentos de simplicidade presentes na tradição do catolicismo, inspirando a cada página uma repentina vontade de ficar em silêncio apenas contemplando a beleza e o privilégio de estar vivo.
O monge beneditino, da abadia de Münsterschwarzach (Alemanha), tem livros publicados em mais de 28 línguas. Procurado como palestrante e conselheiro na Alemanha e no exterior, tornou-se mestre do autoconhecimento.
É bom manter uma regularidade no exercício da meditação. O melhor horário é de manhã cedo, quando está tudo calmo. Quando medito de manhã, o dia começa bem, tenho a sensação de que eu mesmo estou dando forma ao dia; começo o dia como se ele fosse feito para mim. Em cursos de meditação, mutias pessoas se animam a adotar o horário da manhã para meditar, mas, quando são principiantes, não lhes convém, pois costumam sentir cansaço, ou têm a atenção distraída por alguma coisa, nesse horário. Não é fácil manter diariamente essa disciplina em meio a todos os imprevistos com que lidamos, além do que não se deve tomar a prática da meditação como uma tirania. Graf Dürckheim, a quem muito devo, costumava dizer: Devemos abrir exceção com seriedade num dia em que não nos sintamos em condições de meditar. Isto é melhor do que querermos meditar todo dia e ficarmos constantemente atormentados por uma obrigação autoimposta. A função da regra é facilitar, de modo que não precisemos sempre decidir se vamos meditar ou não.
Em todo o caminho espiritual, sempre há fases em que não temos prazer algum em meditar, portanto não devemos nos forçar a meditar a todo custo, mas, pelo contrário, devemos nos perguntar o que essa resistência tem a nos dizer. Devo reduzir minhas expectativas referentes à meditação? Meditação é coisa do dia a dia. Nem sempre eu consigo perceber se algo falhou durante a prática, e isso não tem importância alguma. Eu pratico sem grandes expectativas. Pode ser, também, que a resistência que experimento queira me dizer: "Você se autoimpôs algo que não se ajusta. Talvez seja melhor você seguir outro caminho para encontrar o silêncio. Talvez você só queira ficar imitando este ou aquele mestre de meditação, mas você precisa encontrar seu próprio caminho. Se o seu caminho é este, siga-o com prazer". É claro que também a disciplina é necessária, mas o fundamental é a alegria da prática.
Muitos autores espirituais recomendam combinar a postura correta com a respiração consciente. Posso associar a expiração ao ato de escoar os pensamentos incessantes. Entre expiração e inspiração, há uma fração de segundo na qual não estou expirando nem inspirando. Graf Dürckheim comentou certa vez que esse é o momento mais importante: é como algo entre a vida e a morte, entre estar prendendo a prática a mim mesmo, ou estar entregue a Deus.
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